sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
Concurso de Projectos de Investigação Científica e Desenvolvimento Tecnológico em todos os Domínios Científicos — 2010
Eis os objectivos e prioridades desta iniciativa:
"Constitui prioridade da política de Ciência e Tecnologia nacional o crescimento, reforço e consolidação do Sistema Científico e Tecnológico Nacional (SCTN), tornando-o mais competitivo no contexto nacional e internacional, agilizando a articulação entre os centros de saber e as empresas. Neste âmbito, assume particular relevância a promoção e reforço de competências das instituições científicas e tecnológicas, através da participação das suas equipas de investigação em projectos de investigação científica e desenvolvimento tecnológico (IC&DT) em todos os domínios científicos".
Este texto e outras informações podem ser consultadas aqui.
segunda-feira, 27 de dezembro de 2010
Estudo revela que os neandertais afinal cozinhavam e comiam legumes
O homem de Neandertal, extinto há 30 mil anos, alimentava-se de carne e de vegetais e cozinhava os alimentos, segundo um estudo publicado hoje na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, PNAS, citado pela AFP.
As investigações anteriores indicavam que os Neandertais eram sobretudo caçadores carnívoros, o que teria precipitado a sua extinção.
Pensava-se que os primeiros homens modernos com os quais aqueles coexistiram durante cerca de 10 mil anos teriam sobrevivido graças ao consumo de outros tipos de alimentos, como vegetais, peixes e mariscos, conforme os locais onde viviam.
O novo estudo parte da análise de partículas de alimentos contidas nas placas de tártaro dos dentes fossilizados de Neandertais descobertos em sítios arqueológicos do Iraque e da Bélgica, e trazem uma nova luz sobre estes primos desaparecidos.
Os investigadores, orientados por Dolores Piperno, do departamento de Antropologia do Museu de História Natural Americano Smithsonian, descobriram grãos de amido provenientes de várias plantas, entre as quais uma erva selvagem, e vestígios de diferentes legumes, raízes e tubérculos.
Muitos desses alimentos tinham sofrido modificações físicas correspondentes à cozedura, nomeadamente os grãos de amido, o que faz pensar que o homem de Neandertal dominava o fogo, tal como os primeiros homens modernos.
Os dentes continham também vestígios de partículas de tâmaras e de amido de outros vegetais que os investigadores continuam a tentar identificar.
Nenhum artefacto de pedra indica, no entanto, que os Neandertais utilizavam utensílios para moer os grãos, pelo que é provável que não praticassem agricultura.
A noticia é interessante embora deva confessar que ainda não li o artigo do PNAS. Saliento no entanto a última frase: Nenhum artefacto de pedra indica, no entanto, que os Neandertais utilizavam utensílios para moer os grãos, pelo que é provável que não praticassem agricultura. [!!!!]
Trata-se, certamente, de um erro jornalístico. Como é que alguém colocaria a hipótese, ao ponto de assumir como questão de trabalho, que os Neandertais praticavam agricultura?! E se surgissem utensílios para moagem, seríamos confrontados com a teoria de que os Neandertais eram já agricultores? Como se não se pudessem esmagar estruturas vegetais, grãos ou outras, de origem silvestre...
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
Programa Detalhado do Encontro sobre os Concheiros de Muge
Encontro sobre os Concheiros de Muge: analisando o passado
Museu Geológico – 7 de Janeiro
Rua da Academia das Ciências, 19, 2º
Horário | Autores | Título |
10.30 | João Luís Cardoso | Para a história das investigações dos concheiros mesolíticos de Muge: alguns aspectos menos conhecidos |
11.00 | José Manuel Rolão | Trabalhos Arqueológicos no complexo arqueológico de Muge: 1996-2001 |
11.30 | Anabela Joaquinito | Qual a importância dos micrólitos geométricos na indústria lítica dos concheiros do vale do Tejo? |
12.00 | Nuno Bicho | Os projectos de investigação do complexo arqueológico mesolítico de Muge |
12.30 | Almoço |
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14.00 | Célia Gonçalves | Os SIG como ferramenta preditiva para a localização de novos sítios mesolíticos no Vale do Tejo |
14.30 | João Cascalheira & João Marreiros | Sobre a desconstrução de um concheiro: metodologia de escavação e registo no Cabeço da Amoreira (Muge) |
15.00 | Vera Pereira & Alexandra Pereira | O trabalho que se segue: perspectivas e problemáticas do trabalho em laboratório |
15.30 | Telmo Pereira & Luís Jesus | Revisitando Mendes Corrêa no Cabeço da Amoreira |
16.00 | Intervalo |
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16.30 | Cláudia Umbelino, Teresa Ferreira & Eugénia Cunha | Revisitar os esqueletos de Muge: a dieta das comunidades humanas e as exumações do sec XXI |
17.00 | Michele Wollstonecroft | Archaeobotany at Cabeço da Amoreira: results of the 2008-2010 field seasons |
17.30 | Cleia Detry | Interpretar os concheiros de Muge através da Zooarqueologia |
18.00 | Nuno Bicho, Telmo Pereira, Luís Jesus, João Marreiros, João Cascalheira, Célia Gonçalves, Vera Pereira | A construção de um concheiro: o exemplo do Cabeço da Amoreira |
18.30 | Debate final |
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Encontro sobre os Concheiros de Muge
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Environmental Archaeology: Early agriculture in uncertain climates
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
Cinco milhões de livros digitalizados para decifrar “genoma” cultural
Como seria impossível ler todos os livros existentes no mundo, a equipa recolheu uma amostra de cinco milhões de obras e socorreu-se das novas tecnologias, como o Google.
Concluíram que o Inglês cria cerca de 8.500 novas palavras todos os anos, apesar de muitas não serem imediatamente assumidas nos dicionários.
Outra conclusão é que, a cada ano que passa, a Humanidade esquece o seu passado de forma mais célere.
Como exemplo, indicam que as referências a 1880 perduraram até 1912, durante 32 anos. Já as referências a 1973 desapareceram, em média, dez anos depois.
Contudo, as novas descobertas divulgam-se agora mais rapidamente que nunca. Os cientistas asseguram que no final do século XIX as novidades eram difundidas duas vezes mais depressa do que em 1800.
Em relação à notoriedade alcançada por personalidades, os investigadores descobriram que se tem tornado mais óbvia mas também mais efémera. As celebridades nascidas em 1950 atingiam a fama, em média, aos 29 anos. No início do século XIX, a média era de 43 anos."
Ver noticia aqui.
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Archéologie environnementale de la France
Grâce au développement considérable des fouilles archéologiques préventives mais aussi au raffinement des techniques d'analyse, l'archéologie environnementale connaît un essor sans précédent. La compréhension des environnements du passé, de leur évolution, des impacts qu'ils ont subis et de la réaction du vivant (végétaux, animaux, humains) constitue un élément de réflexion fort pour le présent et l’avenir de l’humanité. Depuis l'apparition de l'homme et, surtout, depuis les débuts de l'agriculture, les sociétés humaines ont significativement modifié leurs écosystèmes et les cycles du vivant.
Plus récemment, elles ont commencé à altérer l'environnement global de la planète à une échelle encore inconnue jusque-là. Le développement, à partir des années 1970, des études paléoenvironnementales en archéologie par des chercheurs de plus en plus nombreux permet aujourd'hui de proposer de nombreux scénarios, passés comme futurs. Ainsi, l'archéologie environnementale a une double fonction. Elle contribue à une meilleure connaissance de l'évolution de l'homme et des sociétés et prend part à l'évaluation, à la prospective et à la prise de décision concernant l'avenir de notre planète, par son approche historique des dynamiques socioenvironnementales.
Fondé sur des analyses réalisées le plus souvent dans le cadre de l'archéologie préventive, cet ouvrage présente les différentes disciplines environnementales et les résultats les plus significatifs obtenus ces dernières années.
domingo, 12 de dezembro de 2010
Conferência MNA/GEEvH/NAP
Relembra-se aqui a próxima conferência MNA/GEEvH/NAP que terá lugar no dia 14 de Dezembro às 18 horas no Museu Nacional de Arqueologia. O orador é Vítor Matos, recém-doutorado pela Universidade de Coimbra e investigador do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde. A comunicação intitula-se "O arquivo clínico da última leprosaria portuguesa (Hospital-colónia Rovisco Pais) e a sua importância para a paleopatologia da lepra".
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
Neanderthal-dooby-doo, where are you?
Apesar de ter ocupado e explorado uma área extensíssima que compreende grande parte do território europeu e algumas das regiões mais ocidentais da Ásia, este tão bem-sucedido hominídeo acabou, como tantos outros antes dele, por definhar e deixar menos frondosa a árvore referente à linhagem humana. A sua sobrevivência resume-se hoje a uma pequena participação no nosso património genético actual, cuja expressão fenotípica aparenta ser de tal forma diminuta que apenas a sequenciação do ADN nuclear foi capaz de a confirmar sem margem para dúvidas. A Península Ibérica tem sido apontada como local do último reduto Neandertal, inferência feita essencialmente a partir da cultura material que a arqueologia tem apresentado ao Mundo. Porém, por comparação com os achados humanos descobertos em Espanha, o nosso próprio pecúlio tem sido reduzido e algo desapontante. Resume-se a um punhado de dentes e ossos desarticulados, sendo que os mais recentes achados têm a Gruta da Oliveira (Torres Novas) como proveniência. Dada a escassez de restos humanos encontrados neste rectângulo à beira-mar plantado, é legítimo questionar a que razão ou razões se deve este cenário e o que podemos fazer para o alterar. Questionámos alguns dos especialistas nacionais acerca desta questão e apresentamos aqui as suas perspectivas em discurso directo.
Para João Zilhão – Professor em Arqueologia Paleolítica na Universidade de Bristol – a causa para este cenário é clara. Encontrei restos humanos em todas as jazidas que escavei, incluindo as do Paleolítico Médio. Se há menos em Portugal do que noutros lados a razão é simples: é que em Portugal se escava muitíssimo menos. Não há menos restos, há menos escavações.
Esta visão é em parte partilhada pelo Director do Museu Nacional de Arqueologia, Luís Raposo. Poderá ser a pouca investigação (escavação) moderna, especialmente em grutas, já que em sítios de ar livre é mais raro encontrar fósseis humanos, aqui ou noutros países. Porém, Raposo acredita que esse não é o único factor explicativo. A verdade é que não foi ainda encontrada em Portugal nenhuma gruta com uma ampla ocupação do Paleolítico Médio. Pelo contrário, ocorre que em quase todas as grutas onde se registaram presenças do Paleolítico Médio estas são muito discretas, quase vestigiais, mesmo quando nos níveis superiores existem densas ocupações do Paleolítico Superior. A única excepção poderá ser a Gruta Nova da Columbeira, que possui uma ocupação intensa do Paleolítico Médio e uma ausência de vestígios do Paleolítico Superior, devida talvez à circunstância de a cavidade ser já infrequentável pelo homem nessa fase. Foi aqui que se recolheu o mais antigo resto neandertalense descoberto em Portugal, mas apenas um fragmento de dente, quando a fauna é abundante. Terão os métodos de escavação usados deixado passar outros vestígios? Não sei.
Luís Raposo tende a considerar que este padrão de menor ocupação das grutas durante o Paleolítico Médio nesta Finisterra portuguesa é real e já o procurou explicar através de padrões de ocupação do território [cf., por exemplo, RAPOSO, L. (1995) - “Ambientes, territorios y subsistencia en el Paleolítico Medio de Portugal”, Complutum, nº. 6, Madrid, pp. 57-77].
Também as condições climáticas gerais poderiam ir no mesmo sentido. A ideia do homem de Neandertal como um “bruto troglodita” é totalmente errónea. Nem eram assim desprovidos de capacidades intelectuais, nem tinham gosto especial por habitar em cavernas. Ora, numa região em que o clima nunca tivesse atingido os rigores glaciários da Europa mais setentrional, é fácil pensar que os bandos de Neandertais ocupariam preferencialmente os vales dos rios e os maciços periféricos a baixa altitude, vivendo principalmente em acampamentos de ar livre e sendo por isso mais “invisíveis” hoje no registo arqueológico. Admito também que, ainda por cima, fossem menos, quer dizer que houvesse uma menor densidade populacional, mas quanto a isso apenas podemos por agora ter “impressões”.
Nuno Bicho, professor na Universidade do Algarve afirma que a questão é interessante e muito relevante no estudo da Pré-história portuguesa e, infelizmente, aplica-se também a outros momentos da Pré-história Antiga, como é o caso do Paleolítico Inferior. Na sua perspectiva, parece haver um conjunto alargado de factores limitadores do número e qualidade de sítios arqueológicos do Paleolítico Médio em Portugal. Provavelmente, há quatro factores principais: o reduzido número de investigadores em Paleolítico e especificamente em Paleolítico Médio; o deficiente treino e ensino em Paleolítico e em análise de indústria líticas; a falta de trabalho de prospecção dedicada ao Paleolítico; e o contexto da geologia e da geomorfologia.
De facto, no âmbito académico há apenas, neste momento três docentes universitários (nas Universidades do Minho, Lisboa e Algarve) que se especializaram e que fazem investigação continuada nesse período. O resultado prático é que o número de alunos que se interessam por Paleolítico é reduzido nos cursos de licenciatura de Arqueologia e, naturalmente, por razões demográficas, diminui sensivelmente conforme se avança no grau académico. Apesar de tudo, temos um conjunto de recém-doutorados e de doutorandos apreciável em Paleolítico, atendendo ao número total de alunos de Arqueologia. Mas também é verdade que o número de alunos que trabalha em Paleolítico Médio é reduzido – tomando a Universidade do Algarve como exemplo (talvez como referência?), existem neste momento 12 doutorandos, dos quais 8 trabalham em Paleolítico (ainda que nem todos tenham esse período como foco da sua tese) e desses 8 não há nenhum a trabalhar em Paleolítico Médio. Do conjunto de investigadores da Universidade do Algarve, eu incluído, há cerca de uma dúzia de pessoas a trabalhar em Paleolítico, e apenas duas trabalham directamente, ainda que não exclusivamente, com Paleolítico Médio.
Para Nuno Bicho, o ensino de matérias relacionadas com o Paleolítico, bem como de especialidades fundamentais no seu estudo como é a geoarqueologia, a arqueometria e a zooarqueologia, é claramente deficiente na maior parte das universidade portuguesas, principalmente no caso das licenciaturas. Unidades curriculares (para aqueles que estão afastados dos estudos superiores há algum tempo, este termo significa “disciplinas”) dedicadas a análise de materiais líticos são raríssimas em Portugal e, claro, se um aluno não souber reconhecer artefactos líticos talhados, muito dificilmente irá encontrar sítios arqueológicos da Pré-história antiga.
O terceiro factor é o do tópico da investigação – raramente em Portugal aparecem projectos de investigação dedicados inteiramente à prospecção arqueológica e, claro, menos ainda dedicados ao Paleolítico. O resultado é que os poucos sítios Paleolíticos que se encontram hoje são revelados acidentalmente ou através de estudos de impacto. Como um grande número de arqueólogos não tem a preparação suficiente para reconhecer artefactos líticos paleolíticos, estes sítios não são encontrados.
Contudo, parece que apesar de todos estes factores condicionantes, deveria haver mais sítios arqueológicos. A verdade é que nos últimos 20 anos, o número de sítios arqueológicos do Paleolítico Superior verdadeiramente importante cresceu exponencialmente (Cabeço do Porto Marinho, Lagar Velho, Vale Boi, Picareiro, Coelhos, Anecrial), o que não aconteceu relativamente ao Paleolítico Médio – de facto, com a excepção dos trabalhos de João Zilhão no Complexo Arqueológico do Almonda, especialmente na Gruta da Oliveira e, mais recentemente, o de Jonathan Haws em Mira Nascente (ainda que com outra dimensão), não houve outros sítios novos de Paleolítico Médio verdadeiramente relevantes. Esta falta de sítios do Paleolítico Médio deve-se muito provavelmente às condições geológicas das jazidas com esta cronologia. É possível que se encontrem soterradas por baixo de coluviões mais recentes ou em terraços fluviais e marinhos de grande potência que dificultam a sua detecção. É também claro que em alguns pontos do país, nomeadamente o Algarve, se deu, provavelmente durante o Holocénico antigo, a erosão completa de terraços e outros depósitos do Pleistocénico Superior. E assim, perderam-se inúmeros sítios arqueológicos datados do Paleolítico Médio.
Em relação aos factores geológicos, seria talvez interessante fazer um levantamento completo e sistemático das condições de jazida de todos os sítios arqueológicos do Paleolítico Médio de forma a, e com base nesse estudo, desenvolver padrões preditivos de localização de jazidas Moustierenses. Este trabalho foi feito para o Paleolítico em geral para o vale do Sado por uma equipa canadiana, com base nos dados de um projecto meu de prospecção paleolítica para o Algarve. Naturalmente, foram encontrados um conjunto razoável de sítios arqueológicos, nomeadamente alguns do Paleolítico Médio e que, espera-se, sejam aceites para publicação em breve.
Aqui ficaram os relatos de três especialistas nacionais, a quem muito agradecemos a sua colaboração. Do seu discurso resulta a ideia que ainda muito há a fazer para colmatar algumas das lacunas que o nosso registo arqueológico apresenta em relação a achados humanos. Porém, também fica a ideia que esse registo irá ser gradualmente enriquecido por novas descobertas à medida que o investimento em investigação, recursos materiais e recursos humanos for aumentando. Aqui estaremos para dar conta desses novos achados.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
TSF/IGESPAR: As hortas monásticas: Santa Clara-a-Velha
Dois dos relatórios do CIPA referentes aos trabalhos realizados com amostras recolhidas em Santa Clara-a-Velha encontram-se disponíveis aqui (Trabalhos do CIPA 97, parte 1), aqui (Trabalhos do CIPA 97, parte 2) e aqui (Trabalhos do Cipa 108). São trabalhos muito ricos em informação, justificando assim o título do programa de rádio que irá para o ar hoje ou amanhã (os sites da TSF e do IGESPAR apresentam datas diferentes) e que, posteriormente poderá ser ouvido no site da TSF ou seguindo o link do site do IGESPAR.
Eis a apresentação do programa como disponível no site do IGESPAR:
“As hortas monásticas: Santa Clara-a-Velha”
A vida quotidiana dos Mosteiros é geralmente uma temática menos explorada face ao conhecimento desenvolvido em torno dos seus aspectos artísticos. Porém, a implementação de programas interdisciplinares permitem aprofundar a informação sobre estes locais, nomeadamente através das arqueociências que nos devolvem um olhar mais completo sobre os locais. Foi precisamente o que se passou no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, passando-se a conhecer um pouco melhor os seus hábitos alimentares ou a produção que se fazia nas hortas, por exemplo. O actual projecto da “horta monástica de Santa Clara-a-Velha” visa precisamente articular o conhecimento desse passado com as actuais preocupações de natureza ambiental e de sustentabilidade. Estas são algumas das questões a explorar pelo jornalista Manuel Vilas – Boas que conversa com o Professor Saul Gomes Mendes, os Drs Artur Corte Real e Lígia Gambini e a Engª Elsa Canavarro.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
JIA 2010
"As IV Jornadas de Jovens em Investigação Arqueológica - JIA 2011 – são um evento científico realizado por e para investigadores (não doutorados) em Arqueologia, que irá realizar-se de 11 a 14 de Maio de 2011, no Campus Gambelas da Universidade do Algarve (www.jia2011.com). Neste sentido, irá ser proposta uma sessão sob o tema:
'Novas abordagens em arqueologia: tecnologias digitais e metodologias computacionais'.
Os objectivos desta sessão consistem em debater tecnologias inovadoras que nos ajudem a investigar, compreender e visualizar a dinâmica de padrões socioculturais através dos tempos, bem como representar o património cultural; partilhar novas perspectivas sobre métodos computacionais aplicados à arqueologia; e incentivar o diálogo entre os participantes sobre as questões teórico-metodológicas inerentes.
Esta sessão não se encontra dirigida a nenhuma área de estudo ou período cronológico/cultural específicos, de modo a permitir a contribuição de um maior número de participantes.
Desta forma, procuramos contribuições que avancem o estado da arte das tecnologias e metodologias disponíveis, que contribuam para a resolução de questões arqueológicas específicas, nomeadamente:
•Simulação arqueológica e modelos preditivos;
•Modelos baseados em agentes;
•Inteligência artificial;
•Captura 2/3/4D (fotogrametria, laser, luz branca estruturada), processamento e análise digital de dados;
•Morfometría geométrica;
•Métodos quantitativos;
•Visualização, colecções digitais e representação virtual do património.
Aos interessados em participar nesta sessão, pedimos que nos enviem o respectivo tema de comunicação e contactos (nome, instituição, email, telefone) para veramoitinho@gmail.com até 30 de Novembro, de maneira a incluir na proposta a enviar à comissão organizadora do JIA.
Gratas pela atenção,
Vera Moitinho de Almeida
(Universitat Autònoma de Barcelona)
Florencia del Castillo
(Universitat Autònoma de Barcelona)"
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Smithsonian: Bolsa Post-Doc
2011 call for Smithsonian Interdisciplinary Post-doctoral Fellowship
The Office of Fellowships (Undersecretary of Science at the Smithsonian Institution) is offering an Interdisciplinary Postdoctoral Fellowship in the area of stable isotope sciences. Research proposals must integrate the use of stable isotopes (2H/1H, 13C/12C, 15N/14N, and 18O/16O) into their specific research questions. The successful applicant will conduct analyses at one of the two Pan-Institutional isotope facilities (OUSS/MCI Stable Isotope Mass Spectrometry Facility in Suitland, MD or at the Smithsonian Tropical Research Institute, Panama City, Panama). Applicants interested in this fellowship are strongly encouraged to contact potential advisors/hosts at any of the Smithsonian's various Museums and Research Units prior to proposal preparation and submission. Please consult the research staff listed for the Museum, Research Units, and Offices at the links to Smithsonian Opportunities for Research and Study below.
Applicants must propose to conduct research in-residence for a period of 12months, at least 4 months of which will be spent on-site at the MCI or STIR laboratory. Applicants must have completed or be near completion of the Ph.D. Recipients who have not completed the Ph.D. at the time of application must provide proof of completion of the degree before the fellowship begins. Please go to http://www.si.edu/research+study for details on the SI fellowship program. Applications must be submitted by Jan. 15, 2011. Access to the online application system and information regarding the necessary materials can be found at http://www.si.edu/ofg/Applications/SIFELL/SIFELLapp.htm
For additional information on the OUSS/MCI Stable Isotope Mass Spectrometry Facility in Suitland, MD (http://si.edu/mci/irms/index.htm) contact Christine France (francec@si.edu), Peter Marra (marrap@si.edu), or Jeff Speakman (speakmanj@si.edu)
JIA 2011 - Abordagens interdisciplinares à interacção Homem-Natureza
Abordagens interdisciplinares à interacção Homem-Natureza
(Interdisciplinary approaches to Human-Nature interactions)
Pretende-se com esta sessão juntar em debate investigadores das mais diversas áreas temáticas, desde a Arqueologia Ambiental à Arqueologia da Paisagem. Trata-se de uma sessão temática e cronologicamente abrangente, versando, a título de exemplo, os seguintes temas:
- Modelos de utilização dos recursos geológicos e biológicos por parte do Homem,
- Dinâmicas territoriais e de povoamento, e
- Inter-relação entre alterações ambientais e dinâmicas sócio-culturais.
Caso estejam interessados em contribuir com comunicações peço que me contactem até 5 e Dezembro através do e-mail jptereso@gmail.com fornecendo os seguintes dados:
- Nome
- Instituição (se aplicável)
- Contacto (e-mail)
As comunicações estão circunscritas a não doutorados.
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Pedoantracologia
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Datações de radiocarbono e dados climáticos para a Neolitização no Próximo-Oriente
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Conferências no MNA
A investigadora Susana Carvalho (Leverhulme Centre for Human Evolutionary Studies, University of Cambridge/Centro de Investgação em Antropologia e Saúde, Universidade de Coimbra) dará uma palestra amanhã às 18 horas no Museu Nacional de Arqueologia. Intitulada "As origens do Olduvaiense: serão os chimpanzés bons modelos para a evolução das primeiras tecnologias em Africa?", esta comunicação é realizada no âmbito do ciclo de conferências co-organizado pelo MNA, pelo Grupo de Estudos em Evolução Humana e pelo Núcleo de Arqueologia e Paleoecogia da Universidade do Algarve.
domingo, 7 de novembro de 2010
Trabalho de Campo no Sudão
The Amara West research project, based at the British Museum is currently looking for a person to join the fieldwork in the cemeteries at Amara West, Sudan from early January to late February 2011.
Experience required:
- sufficient experience in excavation, recording and documentation (digital and non-digital) of human remains and burials
- working in hot and dry climates
- supervision of a team of local workmen (knowledge of Arabic is not required)
Accommodation will be basic and provided in a mudbrick house in a village on Ernetta Island, with 2-3 people sharing a room, electricity is confined to evening hours, running water is very scarce.
Please note that this is an unpaid job. However, all expenses (travel, accommodation, food, medication) will be covered during the time of the project.
For further information on the project see: http://www.britishmuseum.org/research/research_projects/amara_west_research_project.aspx
Applications including a CV and two references can be sent directly to the project director Dr. Neal Spencer: nspencer@thebritishmuseum.ac.uk Deadline for application is November 20th.
For any general questions regarding the job or project please contact Michaela Binder: michaela.binder@durham.ac.uk
sábado, 6 de novembro de 2010
Arqueociências na TSF
A entrevista focou a importância da Arqueozoologia, Paleobotânica, Paleotecnologia Lítica e Paleobiologia Humana para a reconstrução e compreensão do Passado. A entrevista pode ser escutada integralmente aqui.
sexta-feira, 29 de outubro de 2010
Biblioteca de Arqueologia
Já não ía há muito tempo à biblioteca de arqueologia do Igespar. Fui, pela primeira vez esta semana às instalações do Palácio da Ajuda e fiquei muito agradado. Melhor que as velhas instalações do Instituto Arqueológico Alemão e melhor que as duas localizações nas instalações do IPA em Belém. Este novo espaço é agradável, potenciador de trabalho e concentração. O acesso aos livros é rápido - nada como o acesso directo para facilitar as buscas e, ao mesmo tempo, para potenciar a descoberta de trabalhos que desconhecíamos.
No que respeita à arqueobotânica, área que melhor posso julgar, a biblioteca tem abundantes obras, ainda que faltem várias obras de referência (por exemplo "Arqueologia de las plantas" de Ramon Buxó). Por outro lado, é possível ter algumas surpresas.
Noto ainda com alguma surpresa, pela negativa, que nem todos os relatórios da série dos "Trabalhos do CIPA" estão disponíveis na biblioteca, o único local onde é possível consultá-los. Faltam relatórios de quase todas as áreas do antigo programa de arqueociências do IPA/IGESPAR. Questiono: para quando a sua disponibilização on-line? O CNANS disponibilizou os seus (vejam aqui), e as outras àreas quando seguem o exemplo?
terça-feira, 26 de outubro de 2010
Congresso em Biologia Evolutiva
O VI Encontro Nacional de Biologia Evolutiva terá lugar no dia 22 de Dez., na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, com o apoio do Centro de Biologia Animal (CBA/UL) e Centro de Biociências (ISPA).
Mais informações aqui.
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
Antropólogo Biológico Procura-se!
State University of New York at Buffalo invites applications for a full time, tenure-track Assistant Professor position in Biological Anthropology, starting Fall 2011, pending final budgetary approval. Responsibilities include teaching an undergraduate introduction to physical anthropology and additional courses at the undergraduate and graduate levels, including courses in their area of specialization. The standard load is two courses per semester, service to the department and University (as needed), an active research program and student advisement. Since Buffalo has a large medical school and an active Graduate Program in Evolution, Ecology and Behavior, research and teaching interests that compliment those strengths would be an advantage. Demonstrated interests in evolutionary processes and human origins as they relate to climate change, disease or bio-behavioral aspects of health will fill department needs. The Department of Anthropology at SUNY Buffalo offers an integrated program of archaeology, cultural and biological anthropology at both undergraduate and graduate levels. The successful candidate should have a background in general anthropology and a strong track record of field or laboratory research, including publications. A completed Ph.D. should be in hand.
Postdoctoral experience is an advantage. Salary and benefits are competitive. SUNY at Buffalo is an Equal Opportunity Employer/Recruiter, and provides reasonable accommodation to known disabilities of applicants and employees. Women and minorities are encouraged to apply. To apply, submit application through bioanthrosearch@buffalo.edu and attach a letter of application giving qualifications, interests and experience, a one page statement of current research activities and of future research plans, a current c.v., and the names and addresses of three referees by November 1, 2010. This e-mail address replaces UBJobs.Buffalo.edu which is not currently functioning. References, when requested, should be sent by email to Biological Anthropology Search Committee, bioanthrosearch@buffalo.edu.
quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Ciclo de Conferências CIAS
Tim Thompson (Universidade de Teeside, Reino Unido) irá dar uma palestra no próximo dia 3 de Novembro de 2011. Esta iniciar-se-á às 12:00 e terá lugar no Departamento de Ciências da Vida, Antropologia (Anfiteatro 1).
O título da conferência é "Advances in the study of burned bone from forensic and archaeological contexts". Tim Thompson é um investigador proeminente na área dos ossos queimados que ultimamente se tem destacado na aplicação de tecnologias complexas como a Difracção de Raio-X, o Fourier-Transform Infrared Spectroscopy (FTIR) e o microscópio de varrimento de electrões (SEM) à análise de ossos queimados.
Esta palestra está incluida no ciclo de conferências do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS) da Universidade de Coimbra.
Aqui ficam algumas das suas publicações:
Thompson, T., 2004. Recent advances in the study of burned bone and their implications for forensic anthropology. Forensic Science International 146S, S203-S205.
Thompson, T.J.U., 2005. Heat-induced dimensional changes in bone and their consequences for forensic anthropology. Journal of Forensic Sciences 50, 185-193.
Piga, G., Thompson, T., Malgosa, A., Enzo, S., 2009. The potential of X-Ray diffraction in the analysis of burned remains from forensic contexts. Journal of forensic Sciences 54, 534-539.
Thompson, T., Gauthier, M., Islam, M., 2009. The application of a new method of Fourier Transform Infrared Spectoscopy to the analysis of burned bone. Journal of Archaeological Science 36, 910-914.
Interdisciplinaridade - a propósito da exposição de Abel Salazar
quarta-feira, 20 de outubro de 2010
Homem moderno já produzia pão há 30 mil anos na Europa
terça-feira, 19 de outubro de 2010
Jornadas JIA 2011
Está aberta a fase de submissão de propostas para sessões temáticas até 10 de Dezembro de 2010. A coordenação das sessões está limitada a investigadores não-doutorados. Todas as informações podem ser consultadas no site do JIA 2011.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Curso de SPSS
domingo, 10 de outubro de 2010
Curso: estatística para todas as ciências
sábado, 9 de outubro de 2010
VIII Encontro de Arqueologia do Algarve
sábado, 2 de outubro de 2010
Formação em Zooarqueologia
Bolsas de Investigação Dryas/FCTUC
Geoarqueologia
Investigação na área da Geoarqueologia, incluídos trabalhos de Estratigrafia, Sedimentologia, Micromorfologia e Geomorfologia no campo e no laboratório.
Geofísica
Investigação na área da Geofísica, incluídos trabalhos teledetecção e recolha de informação no terreno e de tratamento e interpretação da informação no laboratório.
Datação por Luminescência
Investigação na área da Luminescência, incluídos trabalhos de recolha de amostras no campo e de análise laboratorial.
Cliquem nos links para mais detalhes.
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
Advanced Courses 2011 - CBA
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Arqueologia e Antropologia: Territórios de Fronteira
A colaboração entre o Museu Nacional de Arqueologia, o Grupo de Estudos em Evolução Humana e o Núcleo de Arqueologia e Paleoecologia da Universidade do Algarve é agora retomada após as férias de Verão e o resultado é o ciclo de conferências "Arqueologia e Antropologia: Territórios de Fronteira". A primeira deas terá lugar no dia 18 de Outubro às 18 horas no Museu Nacional de Arqueologia e a conferencista é a Prof. Cláudia Umbelino (Universidade de Coimbra). O título da comunicação é: "Análise Química de Ossos na Interpretação das Paleodietas das Comunidades Humanas: A sua aplicação no Mesolítico Final e no Neolítico Final/Calcolítico do Território Português".
Os detalhes das restantes comunicações podem ser consultados no flyer.
segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Open Anthropology Cooperative Press
Open Anthropology Cooperative Press (OACP) em Língua Portuguesa é a secção responsável por todas as publicações em Língua Portuguesa dentro da iniciativa global chamada Open Anthropology Cooperative (OAC). Esperamos receber uma grande variedade de trabalhos, desde artigos ainda em fase de desenvolvimento até aqueles que já estejam finalizados. O importante é que todos os trabalhos procurem, de alguma maneira, avançar a Antropologia por meio do engajamento com ideias radicais e inovadoras. Os artigos podem ser sobre qualquer tema dentro das sub-disciplinas da Antropologia ou, ainda, sobre temas interdisciplinares com os quais antropólogos desejem por acaso trabalhar.
O material por nós publicado estará disponível online em formato apropriado para download. Normalmente, essas publicações também serão colocadas em um fórum de discussão da OAC para que possamos receber comentários e assim ter um debate sobre os temas em questão. Não há restrições quanto a re-publicação de material já publicado pela OACP.
A editoria da OACP em Língua Portuguesa espera receber propostas de todo e qualquer membro da cooperativa. Aceitamos artigos independentemente do número de palavras. Para enviar propostas, por favor, entrem em contato com os editores Vanessa Campanacho e Moisés Lino e Silva pelo email: oacpress@openanthcoop.net. Responderemos a todas as mensagens dentro do menor tempo possível.
Bem-vindos(as)!
Para mais informações: http://openanthcoop.net/press/
terça-feira, 21 de setembro de 2010
Cambio climatico y dinamica del paisaje en Galicia
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
II Jornadas Portuguesas de Paleopatologia (Actualização)
Pode consultar os novos prazos aqui.
terça-feira, 14 de setembro de 2010
7th International Conference on Science and Technology In Archaeology and Conservation
quarta-feira, 8 de setembro de 2010
Randi Danielsen - Uma Palinóloga ao Serviço da Arqueologia Portuguesa: a tese on-line
terça-feira, 7 de setembro de 2010
Randi Danielsen - Uma Palinóloga ao Serviço da Arqueologia Portuguesa
O título da sua tese é "Alterações Ambientais na Planície Costeira de Quiaios-Tocha durante o Holocénico Recente". Porquê a escolha desta temática?
Como sou palinóloga, a abordagem foi nesta área científica. Primeiro, porque achei interessante. Segundo, porque encontrei um grupo de investigadores que vivem e trabalham na zona de Quiaios. Estudam vários temas da ecologia da paisagem nesta região: os animais e outros aspectos da zoologia, a flora, como é o caso dos líquenes, mas faltava o conhecimento sobre a história da paisagem e sobre o desenvolvimento ambiental. Na região existem várias lagoas com sedimentos anaeróbicos que contêm pólenes e isto é um aspecto fundamental para levar a cabo este tipo de investigação. Existiam, portanto, muitos argumentos para realizar este estudo, mas faltavam verbas. O grupo de Quiaios incentivou-me a candidatar a uma bolsa de FCT e por sorte consegui.
O período abrangido pelo estudo foi o que os sedimentos reflectiram, o Holocénico Recente desde c. 5000 BP. Se fosse possível encontrar sedimentos orgânicos mais antigos seria interessante. Mas para viabilizar o seu estudo seria necessário um equipamento de sondagem melhor.
Qual foi a metodologia utilizada para identificar as alterações climáticas?
Um estudo palinológico não mostra as alterações climáticas de forma directa, mas sim a história da vegetação. A identificação de alterações ambientais pode reflectir mudanças climáticas, mudanças na configuração da linha da costa e no nível do mar, e naturalmente, a própria intervenção humana na paisagem (pastagens, silvicultura, horticultura e agricultura). Completamente essencial para o processo de entendimento e para atingir os resultados do estudo foi a cooperação multidisciplinar com um grupo de investigadores do Departamento de Ciências da Terra da Universidade de Coimbra. Fizeram na mesma região investigações exaustivas e abrangentes nas áreas de hidrogeologia (Ana Castilho), sedimentologia (Ana Castilho e Pedro Dinis) e malacologia (Pedro Callapez). Só depois de juntarmos os nossos resultados é que chegamos a uma visão mais global que permitiu apresentar conclusões sobre as alterações ambientais.
Quais foram os principais resultados da sua investigação?
A investigação abrange diversas áreas científicas;
História da vegetação:
Na região de Quiaios – Tocha (bem como na maior parte da zona litoral Portuguesa) existia uma floresta de pinheiros e carvalhos no Holocénico Antigo e Médio. Mais tarde, e em resultado da intervenção humana (em alguns casos combinado com factores climáticos), esta floresta desapareceu e deu lugar a uma paisagem de charneca dominada pela urze de vassoura. Isto processou-se em diferentes momentos, considerando toda a faixa litoral, o que permite concluir que o principal responsável por esta mudança foi o Homem. O pastoreio e a deterioração do clima nos séculos XVII e XVIII (a chamada Pequena Idade do Gelo), fizeram com que a vegetação na zona de Quiaios – Tocha se tornasse mais vulnerável, aparecendo em manchas dispersas, perdendo assim a capacidade de proteger o ambiente contra as inundações de areias. O resultado foi a "desertificação" (foto). Desde 1924 que a zona tem vindo a ser reflorestada – o pinheiro bravo é actualmente a espécie predominante mas existem também algumas manchas de outras espécies nacionais e exóticas.
A linha da costa:
Os resultados também deram indicações importantes sobre a linha da costa. Durante o máximo glacial, há cerca de 18 000 anos antes do presente, o nível do mar estava a uma cota de -120 metros e consequentemente a linha da costa encontrava-se muito afastada do traçado actual. A estabilização ocorreu há cerca de 5000 anos antes do presente. As investigações na zona de Quiaios-Tocha mostraram que a posição mais oriental da linha de costa estava sensivelmente 1 km mais recuada do que hoje em dia. Assim, foi refutada a tese de muitos investigadores que propunham, para esta região, uma linha de costa situada bem mais para o interior, i.e. cerca de 6-7 km.
Quando a aceleração da subida do nível do mar diminuiu formaram-se lagunas salubres ao longo da costa devido a formações de barreiras arenosas protectoras. A vegetação nestas lagunas caracteriza-se por conjuntos florísticos que aguentam este tipo de ambiente, mas também algumas árvores como o amieiro. Ao longo de toda a faixa entre Quiaios e Tocha existem sedimentos argilosos formados neste tipo de laguna. Estes sedimentos estão colmatados por areias, mostrando um processo de assoreamento das lagunas que é posterior a 4000 anos antes do presente.
Gerações de dunas e episódios eólicos:
Foram documentados vários episódios eólicos durante os quais diferentes tipos de dunas se formaram na região. As mais antigas são as dunas truncadas na parte oriental de Gândara, cuja formação teve origem há cerca de 12 000 anos antes do presente. Posteriormente formaram-se dunas parabólicas durante um ou vários períodos eólicos. Finalmente, durante a Pequena Idade do Gelo, há 300-200 anos, formaram-se dunas oblíquas e transversais com grandes extensões verticais e horizontais. As dunas parabólicas foram cobertas de areias e, actualmente, apenas existem pequenas manchas que, durante esta ultima geração de dunas, se encontravam protegidas por floresta.
História das lagoas de água doce:
As actuais lagoas em Quiaios têm uma origem recente: cerca de 300 anos. Existe uma relação entre o movimento de dunas e a deslocação das lagoas para o interior. Numa das lagoas actuais encontrei uma extensa camada contendo raízes e troncos de um arbusto (Erica erigena). A origem da camada era contemporânea da génese da lagoa, evidenciando uma morte abrupta dos arbustos devido a uma inundação local. Foram igualmente identificados sedimentos lacustres cobertos por areias em zonas mais ocidentais do que a localização das lagoas actuais. O topo do sedimento num destes locais foi datado de há cerca de 400 anos. Conclui-se, assim, que a lagoa foi colmatada por areias e, em seguida, emergiram as águas em zonas baixas localizadas mais para o interior.
Diferenças actuais entre as lagoas:
Detectou-se, também, que as lagoas de Vela e Braças, actualmente com características químicas e ambientais diferentes, tiveram evoluções distintas desde a sua génese. Em colaboração com a hidrogeóloga da Universidade de Coimbra, verificámos que este facto está relacionado com a divergência da direcção do fluxo de água e o gradiente hidráulico nas lagoas. O fluxo de água na Lagoa da Vela vem de leste, onde se encontram os campos de agricultura. Como o gradiente hidráulico é baixo, a lagoa tem água estagnada e poluída, com um pH superior a 9. O fluxo de água da Lagoa das Braças é de sul, ou sudoeste, e vem de uma zona de dunas cobertas actualmente por um pinhal. O gradiente hidráulico é muito maior do que na Lagoa da Vela, o que faz com que a água esteja menos poluída, apresentando uma renovação mais rápida. Actualmente a Lagoa das Braças é eutrófica, com um pH c. 8. A morte de peixes e o afloramento de cianobactérias causada pela poluição só se verifica na Lagoa da Vela.
Vista da Bandeira no Cabo Mondego nos anos de 1930 (Foto: extraída de um filme de Manuel Santos. Biblioteca Municipal, Figueira da Foz)
Que importância têm os seus resultados para o Planeamento e Gestão das zonas costeiras Portuguesas?
Os resultados mostram que o ambiente é vulnerável e não aguenta grandes impactes externos. A inundação das areias pode acontecer novamente e, por isso, é necessário ter cuidado com os impactes que provocamos na natureza. Recentemente foi realizada uma grande desarborização na zona da Praia de Mira para a instalação de uma fábrica. Impactes deste tipo podem representar um perigo perante um ambiente tão vulnerável.
A construção de infra-estruturas pode afectar os aquíferos e o nível de lençol freático. Ambas as lagoas são pouco profundas e são fortemente afectadas por diversas variações, seja ao nível da pluviosidade ou mesmo do consumo de água para diferentes propósitos. A instalação de um campo de golfe e de um possível aldeamento foram planeados e aceites ao lado da Lagoa da Vela. Isto implicará um aumento significativo no consumo de água na zona, com perigo de secagem da lagoa e de todos os poços que existem à sua volta. Isto poderá provocar o abaixamento do nível freático na zona, pondo em perigo a irrigação dos campos agrícolas.
Outra preocupação que tenho diz respeito à arborização. Acho que cometeram um erro ao plantar monoculturas de pinheiro ao longo do litoral. Mais persistente contra fogos e contra doenças seria uma floresta como aquela que existia há cerca de 5000 anos, com pinheiros e carvalhos (carrasco e Carvalho-português). Em futuras plantações deviam plantar manchas de árvores caducifólias entre os pinheiros.
O que falta ainda fazer neste domínio em Portugal?
Ainda falta fazer análises em várias regiões do país que mostrem o desenvolvimento da vegetação durante o Holocénico. Isto para termos uma visão mais global da evolução da vegetação no país e para mais facilmente resolver a cronologia dos depósitos investigados. Também falta estudar os ambientes em tempos mais antigos.
Similarmente, são muito escassas as investigações palinológicas em contextos arqueológicos. Espero que esta lacuna seja colmatada o mais brevemente possível.
Que outras aplicações existem para a abordagem palinológica?
Além da sua utilização em contextos arqueológicos, a palinologia é utilizada na área medicinal (as alergias, por exemplo) e também na forense.
De há três meses para cá tem desenvolvido a sua actividade no Laboratório de Arqueociências do IGESPAR. Em que projectos está actualmente a trabalhar?