quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Base de dados de Arqueobotânica (2)

Para quem se interessa pelo assunto, está on-line mais um bom exemplo de base de dados de Arqueobotânica, desta vez britânica, já com 13 anos! Vejam o seguinte artigo:

Tomlinson, P. and Hall, A. (1996) - A review of the archaeological evidence for food plants from the British Isles: an example of the use of the Archaeobotanical Computer Database (ABCD). Internet Archaeology, 1.

A título de exemplo, sigam o seguinte caminho:

Table of contents
Search the ABCD by Taxa
Brassica sp.
Sites
1338
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Impressiona a quantidade de espécies inventariadas, assim como o grande número de sítios arqueológicos. Mas saliento o facto de o nível base da apresentação não ser o sítio mas sim a amostra, dentro do sítio.


terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Geoarqueologia - uma tese

Foi hoje defendida a primeira tese realizada no âmbito do Mestrado em Geoarqueologia, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa em parceria com o IGESPAR: "Estudo petroarqueológico da utensilagem lítica do sítio arqueológico Lajinha 8 (Évora, Portugal). Análise de proveniências" por Rita Gaspar, tendo sido aprovada com a classificação de 19 valores.

Com a autorização da autora, segue o resumo da dissertação:

"No estudo aqui apresentado, centrado na colecção de utensilagem de pedra lascada do sítio arqueológico do Neolítico antigo Lajinha 8, desenvolveu-se uma abordagem geoarqueológica relativamente ao aprovisionamento das matérias-primas líticas utilizadas por este grupo humano.
O conjunto alvo é composto por 254 utensílios maioritariamente sobre suporte lamelar onde se denota uma forte componente micrólita, nomeadamente de geométricos. O seu estudo realizou-se com recurso a análises petrográficas macro e microscópicas que conduziram à identificação de sete litologias distintas. A representação destas no conjunto alvo encontra-se directamente relacionada com a sua aptidão para o talhe, salientando-se entre as rochas sedimentares as de texturas micro e/ou criptocristalinas e entre as rochas ígneas as de texturas afaníticas. A forte presença de litologias menos comuns em conjuntos líticos de outros sítios arqueológicos enquadráveis no Neolítico antigo, como sejam rochas vulcanosedimentares e metaliditos, é outra característica do conjunto em análise.
O estudo petrográfico realizado foi complementado com análise cartográfica, bibliográfica e prospecção de campo com objectivo de identificar as Fontes de Matérias-Primas das litologias representadas. No entanto, apenas foi possível apontar algumas prováveis Áreas Mãe de Proveniência, através das formações cartografadas. Desta forma é possível colocar a hipótese de que a maior parte das matérias-primas utilizadas por este grupo humano estariam disponíveis a distâncias de cerca de 25km em linha recta. Contudo, algumas das litologias utilizadas, nomeadamente os chertes e jaspes, poderão ter a sua origem em intercâmbios com outros grupos humanos."

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Glossário de dendrocronologia


Embora não seja uma ferramenta recente, para quem não sabe, fica aqui a informação.

O WSL tem on-line um glossário de termos usados em dendrocronologia. Existe em várias linguas, inclusive em português. É, aliás, uma óptima forma de confirmar qual a melhor tradução para termos de dendrocronologia.


Existe já um glossário em várias línguas com termos de anatomia de madeiras, editado pela IAWA (International Association of Wood Anatomists), que segue o mesmo principio. Não era mau pensar em algo deste tipo para termos de Arqueologia.

O Património Genético Português – a história humana preservada nos genes

À guisa de sugestão natalícia, foi editado pela Gradiva o livro O Património Genético Português – a história humana preservada nos genes de Luísa Pereira e Filipa M. Ribeiro. Mais um exemplo de que o género da divulgação científica está em crescimento em Portugal, e que cientistas de topo fazem um esforço por trazer a sua investigação a um público generalista, de forma compreensível a qualquer pessoa interessada.

Esta é uma obra de leitura empolgante e bem redigida. A genética populacional humana é aqui introduzida de forma inteligível (e inteligente) ao leitor menos versado, sem cair em simplismos paternalistas. Os temas abordados, mesmo os que envolvem conceitos mais complexos, são apresentados com clareza e as autoras não caem na tentação de tornar os temas “divertidos”. O texto é sóbrio mas simultaneamente entretém e cativa porque os próprios temas são fascinantes e dispensam artifícios de estilo.

Vários tópicos são discutidos, mas todos têm em comum a explicação de como a genética pode ser usada para perceber o passado humano, desde as origens da espécie até a períodos históricos recentes. Pelo caminho as autoras ilustram bem o modo de funcionamento da investigação científica e até a forma como os cientistas entendem e interagem com os arqueólogos.

Logo no inicio esclarece-se que a genética, ao contrário do que muitas vezes se pensa, demonstra a irracionalidade presente no conceito de raça:

Ao longo deste livro, vamos usar palavras como «português», «europeu», «escravo», «subsariano», «islâmico», «cristão», «judeu», sem qualquer juízo de valor associado. Aliás, neste ponto a genética forneceu-nos objectivamente as evidências para destronar muitos preconceitos (…) é assim uma tentativa de informar numa linguagem menos técnica mas objectiva para que haja menor possibilidade de mau uso.”(pág. 9).

“(…)deve ficar claro que se e quando a expressão «raça» for utilizada, ela irá representar uma construção social, politica ou cultural e não uma entidade biológica.” (pág. 44).

Numa primeira parte poderá ler-se sobre como os geneticistas usam a informação contida no DNA das populações humanas actuais para esclarecer a origem do homem moderno e para avançar uma data para este evento. Fala-se de como a genética parece dar força ao modelo “out-of-Africa” de evolução do Homo sapiens. É ainda explicada a forma como o DNA mitocondrial e marcadores no cromossoma Y são usados para estudar as grandes migrações humanas no paleolítico. Referem-se Neandertais e a possibilidade destes se terem cruzado com homens modernos. Revê-se o uso da genética no debate entre difusão cultural vs difusão démica para a introdução da agricultura. Mais no campo da antropologia discutem-se as repercussões genéticas das assimetrias de género em diferentes culturas.

Na segunda parte aprende-se sobre o legado genético nos portugueses de variados povos que influenciaram o nosso passado como os migrantes paleolíticos, os primeiros agricultores, escravos oriundos da África Subsariana, os mouros do Norte de África ou os judeus sefarditas. Finalmente aprendemos qual foi a nossa influência genética nos territórios ligados à expansão marítima, como Cabo Verde, Moçambique, Angola, Brasil, Índia, entre outros.

Por abordar ficam outros temas que talvez pudessem ter sido discutidos, como por exemplo se será possível identificar sinais genéticos de outras eventuais migrações mais ou menos bem documentadas, como a dos Iberos, Celtas ou Romanos. O aspecto clínico fica de fora da obra, não sendo mencionado o interessante caso da alta frequência da paramiloidose em algumas localidades Portuguesas do litoral norte (e.g. Póvoa de Varzim) e que se supõe resultarem da forte influência genética de invasores Normandos em comunidades particularmente endogámicas fundadas na Idade Média.

Creio que qualquer leitor encontrará pelo menos um tema novo entre assuntos cativantes raramente abordados anteriormente e que resultam da frutífera carreira de investigação da autora Luísa Pereira, no IPATIMUP. Este livro constitui uma primeira abordagem, bem referenciada, ao passado do ponto de vista biológico. Oferece um contraste inovador com a arqueologia e historiografia clássicas, debruçadas essencialmente em aspectos do foro cultural ou económico.

Duma forma geral “O Património Genético Português – a história humana preservada nos genes” é um “page turner” indispensável em qualquer boa biblioteca caseira.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Base de dados de Arqueobotânica - o exemplo de Maryland

Começo por referir que este post resulta de uma sugestão de um leitor do blogue, Rui Gomes Coelho, que enviou há uns dias a noticia de um site recentemente criado.

O site Maryland Archaeobotany pode ser consultado em http://www.jefpat.org/archeobotany/Home.aspx

Confrontado com a dispersão de dados de arqueobotânica por diversos meios científicos, o Maryland Archaeological Conservation Laboratory, resolveu desenvolver uma plataforma - o referido site - para disponibilizar ao público dados de arqueobotânica referentes a esse estado americano.

O resultado deste esforço é extremamente interessante. O site contém glossários, textos didácticos, sínteses interpretativas e uma base de dados. Esta base de dados é muito prática, permitindo pesquisas simples ou combinadas, por espécies (sementes e madeiras), sítios arqueológicos, regiões e ainda por períodos cronológicos.

Aconselho veementemente que passem algum tempo a explorar o site.

Não resisto em deixar aqui o repto: para quando um projecto destes para o nosso país? Uma base de dados que permita a qualquer pessoa em qualquer local do mundo - por isso mesmo terá de ser, no mínimo, bilingue - aceder a toda a informação de Arqueobotânica referente a Portugal.

Agradeço a Rui Coelho a sugestão e fico à espera de outras mais por parte dos nossos leitores. O mail para o fazerem está na barra lateral à vossa direita.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Arqueopalinologia (2)

Não resisto a deixar aqui mais uma mensagem cerca deste tema. Trata-se de uma citação da monografia do extinto CIPA onde foram realizadas experiências nesta área (o realce da primeira frase é meu):

"Paradoxalmente, o maior problema da palinologia de solos “secos” é que há sempre pólen! Mesmo em quantidades ínfimas, com os métodos de hiperconcentração desenvolvidos pela escola francesa da “palinologia arqueológica”, é sempre possível obter uma concentração polínica. O problema é saber que pólen estamos a observar — contaminação moderna?; pólen mais antigo que o depósito, herdado da matriz sedimentar?; pólen contemporâneo da deposição do sedimento? — tudo é concentrado, misturado, e ali está, na lâmina de microscópio, à espera de ser observado.

Quando em presença de espectros polínicos muito oxidados, como é frequente em sedimentos arqueológicos arejados, de matriz silto-arenosa seca, torna-se muitas vezes óbvia a erosão dos grãos de pólen, quer observada directamente na superfície dos grãos, quer inferida pela exclusiva ocorrência de pólen muito resistente e ausência de pólen frágil.

Qual o significado paleoecológico da “meia-dúzia” de grãos aí identificados e contados? Mesmo assumindo que são todos contemporâneos da deposição (o que não há maneira de provar), que percentagem representam relativamente ao espectro polínico original? Qual a sua relação com a paisagem coeva dos horizontes arqueológicos?

Das experiências já realizadas sobre contextos deste tipo, somos obrigados a concluir que, em condições de oxidação, os resultados polínicos não são fiáveis. É sobretudo importante pensar na capacidade imagética da palinologia, que nos fala simultaneamente da presença e da ausência de protagonistas vegetais na paisagem, capacidade que se perde quando há destruição diferencial do pólen. Olhar um conjunto polínico profundamente distorcido de pouco vale. (Mateus et al, 2003: 146)"

MATEUS, J. E.; QUEIROZ, P. F.; VAN LEEUWAARDEN, W. (2003). O Laboratório de Paleoecologia e Arqueobotânica – uma visita guiada aos seus programas, linhas de trabalho e perspectivas. In MATEUS, J.E.; MORENO-GARCÍA, M. (eds) – Paleoecologia Humana e Arqueociências. Um programa multidisciplinar para a arqueologia sob a tutela da Cultura. IPA (Trabalhos de Arqueologia; 29), Lisboa: p.106-188.

domingo, 13 de dezembro de 2009

Ferramentas de Trabalho

Aqui fica o endereço de dois sites que disponibilizam equipamento laboratorial. Infelizmente, estas ferramentas não são para todos os bolsos, por isso em baixo ficam instruções para a construção de uma tábua osteométrica. Foram alinhavadas por dois investigadores da Universidade de Sheffield que gentilmente autorizaram a sua publicação no Arqueociências.

A Folding Osteometric Board (design © A. Chamberlain & C. Cox, University of Sheffield)

Materials

- Hardwood, planed/sanded, 2cm thick, c. 9cm wide, in lengths of 32cm, 30cm and 8cm
- Hard- or softwood sliding block, approx. 8cm × 6cm × 4cm
- Hard- or softwood edge piece, approx. 10cm × 3cm × 2cm, with groove (i.e. L-shaped cross section)
- Strip of thin wood or veneer, approx. 9cm × 1cm × 0.5cm
- 60cm stainless steel measuring rule with millimetre graduations, cut into two sections at the 30cm mark
- 75mm brass butt hinge with 15mm brass screws
- 4 × 40mm brass screws
- Impact adhesive suitable for joining wood and metal, e.g. Evostick
The board is constructed of hardwood to avoid warping due to temperature and humidity changes - old furniture from a skip or a charity shop is a useful source of suitable wood. The sliding block materials may be constructed of softwood. The grooved piece, which ensures that the face of the sliding block is kept parallel to the upright, can be cut from the edge of a tongue-and-grooved floorboard. The steel rule should be engraved in millimetres: avoid using a non-engraved aluminium rule which may be inaccurate. A folding 60cm steel rule (e.g. from B&Q) can be dismantled easily by removing the rivet and then trimmed accurately to 0-30cm and 30-60cm lengths.

Construction

- All wood materials must be cut to accurate right angles and checked with a carpenter’s square.
- Join the 32cm and 30cm lengths of wood end-to-end with the hinge positioned on the underside (there is no need to rebate the hinge into the wood) and check that the two sections are aligned when folded and extended.
- Cut a shallow groove as wide as the steel ruler along the midline of the joined sections, deep enough to hold the steel rule with a little extra depth to allow for the glue. This groove can be cut with a router, or by chisel (with care!). Cut the lengths of steel rule to size using a fine hacksaw and file, and glue the sections in place checking that their ends meet flush when the board is extended and that the surface of the rule does not project above the surface of the board. If a non-folding 60cm rule has been cut, remember to allow for the cut width.
- Join the 8cm upright to the free end of the 30cm length with two brass screws, ensuring that it overlaps below the bottom of the 30cm length by approximately 0.5cm to match the thickness of the folded butt hinge. When folded the lengths of the board should be parallel to each other, separated by the folded hinge at one end and by the overlap of the upright board at the other. Check that the upright is truly at right angles to the horizontal lengths and that the end of the steel rule exactly contacts the face of the upright piece.
- Use glue and/or panel pins to attach the thin strip of wood to the underside of the 32cm length, 2cm from the distal end. This should ensure that the board rests horizontally on the table when extended (see Figure).
- Use two brass screws to attach the edge piece at right angles to the bottom face of the sliding block, ensuring that the horizontal surfaces of the blocks are flush and the groove is positioned to run along the edge of the osteometric board. Check that all the angles between the block and the osteometric board are 90º.
- Finish the wood surfaces with beeswax polish to ensure smooth movement of the block over the board. Folded board. The top half is resting on the hinge at one end and on the over-lapping part of the upright at the other. Underside of the sliding block, showing position of edge piece with groove forming a projecting ‘lip’. Extended board, resting on overlapping part of upright at one end, on the hinge, and on the wood strip at other end.
- Finish the wood surfaces with beeswax polish to ensure smooth movement of the block over the board


Folded board. The top half is resting on the hinge at one end and on the over-lapping part of the upright at the other.



Underside of the sliding block, showing position of edge piece with groove forming a projecting ‘lip’.



Extended board, resting on overlapping part of upright at one end, on the hinge, and on the wood strip at other end.

sábado, 12 de dezembro de 2009

Um dos melhores exemplos da aplicação das arqueociências é vermos o que uma cooperação multidisciplinar consegue alcançar em termos da construção de conhecimento. Compreender a história dos nossos antepassados passa necessariamente por investigações que abranjam várias linhas de evidência. O documentário Becoming Human é um exelente exemplo de como se pode passar esse conhecimento intrinsecamente multidisciplinar para o público. Aqui ficam os links para as três partes do documentário para quem estiver interessado.




sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Bolsa para Investigador Associado (Reino Unido)

Para quem estiver interessado na Idade do Bronze.

Arqueopalinologia

Na semana passada, num colóquio realizado em Braga (aqui anunciado com antecedência) Luis Gómez-Orellana fez uma muito interessante e pertinente comunicação onde reviu criticamente os métodos utilizados para a realização de reconstituições paleoecológicas. A mesma suscitou diversas questões entre os demais participantes no colóquio pois o autor afirmou a inadequabilidade de diversas técnicas para a reconstituição de paisagens antigas, entre as quais a antracologia e a arqueopalinologia. Centro-me aqui somente na segunda (a primeira ficará para outra ocasião).

É hoje evidente que a Arqueopalinologia deve ser encarada com muitas cautelas. Várias questões apontadas por Gómez Orellana, que eu subscrevo na íntegra, servem para chamar à atenção das limitações desta técnica. Saliento as seguintes:

- A recolha de dados polínicos em jazidas arqueológicas está fortemente condicionado pelo tipo de contextos sedimentares e pelas realidades arqueológicas disponíveis;

- Os contextos sedimentares "secos" são propícios à migração vertical do pólen;

- Os contextos sedimentares "secos" são mais susceptíveis de degradar o pólen, ocorrendo fenómenos de preservação diferencial;

- Os contextos arqueológicos encontram-se por inerência afectados antropicamente;

- Nos contextos arqueológicos, a deposição polínica acontece sem qualquer ritmo calculável, e

- Frequentemente as sequências são incoerentes.

Como tal, a escolha dos contextos a ser amostrados deve ser criteriosa e limitar-se unicamente a níveis orgânicos e a paleosolos bem preservados, ainda assim com um forte controlo da tafonomia.

Por outro lado, a interpretação destes contextos contém também diversos problemas, não podendo ser encarada da mesma forma que as sequências polínicas obtidas em turfeiras e outros contextos similares. Os dados da arqueopalinologia referem-se aos locais associados à acção do Homem e mesmo assim os espectros obtidos são difíceis de interpretar.

Exige-se cautela. Aconselho que a leitura de trabalhos de arqueopalinologia comece por um exame minucioso do capítulo da Metodologia.

Termino esta mensagem com um exemplo caricatural que me foi dado há uns tempos: imaginem que o local no qual se obtém a sequência polínica encontrava-se, no tempo de ocupação da jazida, à sombra de um belo, porventura isolado, carvalho. A sequência polínica obtida daria uma imagem muito interessante da paisagem envolvente: um povoado rodeado de um enorme carvalhal!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Conference, Loughborough University, UK, 22nd-23rd April 2010

Para quem gosta de Mar, aqui vai uma Conferência sobre Ecologia Costeira no presente e no passado!


Call for Papers - Conference, Loughborough University, UK, 22nd-23rd April
2010:
All at Sea? Synergies between past and present coastal processes and ecology
Organisers: Dr D. B. Ryves, Professor N. J. Anderson & Dr P.J. Wood

Coastal zones are dynamic systems. They are high-energy environments
exhibiting rapid spatial and temporal change and are constantly evolving. The
complex interaction of physical processes operating on both short (e.g. tides,
fluvial input of nutrients and sediment) and longer-term timescales (e.g.
climate & sea level change) form the driving force for many of the biological,
chemical and sedimentological processes that occur in these systems. Coastal
zones are unique in their steep gradation of conditions (e.g. salinity) which
produce distinctive ecological communities.

In recent years human impact has seriously altered many of these coastal
systems resulting in issues such as eutrophication, over-exploitation of
resources and pollution catching media attention. Such major anthropogenic
changes make it increasingly difficult to understand the already complex
natural physical processes and ecological changes operating within the coastal
zone. These complex issues must be dealt with before we can begin to use
these archives as palaeo-records for understanding the past, for which they
offer great potential to integrate the independent terrestrial and marine
records of past climatic and environmental change. By understanding the past
in these terms we can provide valuable context for investigating recent and
future change.

This conference aims to address the following questions:
1. How do physical, biological and chemical processes in the coastal zone
impact ecological communities and how do these communities change and
evolve over time?
2. Can we successfully isolate natural environmental change from human
impact in modern and recent coastal systems?
3. How can we most effectively apply complex contemporary ecological
information to improve our interpretation of palaeo-records?
4. How can we integrate complex contemporary ecological data with time-
averaged palaeo-data to improve policy and management of coastal ecological
systems and future predictions under changing climate?

This conference will be composed of four sessions entitled:
1. The contemporary coastal zone: physical, biological and chemical impacts
on ecology.
2. Assessment of the strength of climatic and environmental change
inferences from palaeoecological investigations.
3. Formation of the palaeo-record in high-energy environments: chronology,
taphonomy and diagenesis
4. Integrating contemporary and palaeo datasets from the coastal zone:
synthesis and visions for the future.

Abstract deadline: 31st January 2010
For more information and registration details see:
(http://www.lboro.ac.uk/departments/gy/allatsea/) or e-mail
allatsealboro@gmail.com

Wood Anatomy of Tree Rings

Regressado da 9th International Winter School "Wood Anatomy of Tree Rings" escrevo para salientar o quanto profícua foi a participação neste curso.

Aconselho todos aqueles que se interessem por anatomia de madeiras a participar neste curso, leccionado por Holger Gärtner e Fritz Schweingruber (já uma lenda nesta área), onde se aprende não só o básico para a identificação de madeiras mas também princípios de dendroecologia que poderão ser muito interessantes para aplicar às realidades arqueológicas (existem alguns estudos interessantes nesta área).

Saliento que também para quem já tem conhecimentos de identificação de madeiras este curso é muito proveitoso. Participaram nele, como alunos, pessoas com vários anos de experiência na área. Num total de 18 alunos, contavam-se pessoas de 11 nações diferentes (!!), constituindo um importante espaço de partilha de conhecimentos e experiências.

A razão pela qual não publicitei o evento no blogue deveu-se ao facto das inscrições já estarem fechadas quando este blogue teve inicio. No entanto, entre 11 e 17 de Abril irá decorrer a 10ª edição do curso, na mesma localidade, Klosters Dorf, no meio das montanhas suíças.


As boas noticias não terminam aqui. Na página pessoal de Gärtner, é anunciado que a 11ª edição decorrerá no Inverno do próximo ano em Lisboa. Vejam em: http://www.wsl.ch/staff/holger.gaertner/

Por experiência própria posso dizer que este curso é garantia de aprendizagem.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Em Flores, Sê Floresiano?

Mais uma acha foi lançada à fogueira que é a discussão filogenética do Homem de Flores. Recentemente, alguns cientistas publicaram um artigo na Significant, no qual estabeleceram uma comparação entre algumas dimensões físicas do LB1, um espécime fóssil encontrado na ilha de Flores em 2003 por uma equipa australiana, e outros hominídeos conhecidos. O objectivo foi muito simples: produzir um diagrama de dispersão a partir de alguns índices físicos e verificar a sua proximidade relativa.

Para aqueles que não estão familiarizados com este achado, é necessário mencionar algumas das características mais fascinantes do fóssil do Homem de Flores. Primeiramente, a sua capacidade craniana está mais perto dos australopitecíneos do que de qualquer homínideo. Isso não seria surpreendente não fosse o facto desta população de Flores ter vivido aí nos últimos 100 mil anos até se extinguir há cerca de 13 mil anos e a data da extinção do último australopitecíneo ter ocorrido há mais de 2 milhões de anos. Em paralelo, a sua estatura diminuta a rondar o metro de altura granjeou-lhes a alcunha de hobbit. Pensa-se que a sua baixa estatura pode estar relacionada com o nanismo insular, um fenómeno documentado em outros mamíferos de Flores e que consiste na redução de tamanho corporal.

Surgiram duas teorias filogenéticas distintas imediatamente a seguir à publicação dos achados. A primeira apontando uma causa patológica para as características físicas observadas e defendendo que o hobbit é na verdade um sapiens moderno, e a segunda defendendo uma nova espécie para o fóssil. As últimas investigações têm reforçado a segunda hipótese determinando que o ombro, o pulso e o pé do Homem de Flores não são semelhantes ao do Homem moderno.

O novo estudo demonstra que os índices cranianos do Homem de Flores se enquadram num grupo constituído por outros hominídeos extintos como o erectus, heidelbergensis e os neanderthalensis (outras duas “espécies” muito discutidas). Um segundo grupo é composto pelos humanos modernos e o terceiro grupo inclui os humanos modernos com microcefalia, uma condição que poderia explicar a reduzida capacidade craniana da população de Flores.

Uma segunda parte do novo estudo produziu um diagrama de dispersão da massa corporal e do índice de massa corporal de duas populações de pigmeus e do LB1. Tal como no primeiro estudo, este demonstrou ser um outlier.

A partir dos seus resultados, os autores rejeitam a hipótese de que o Homem de Flores seja um Homem moderno microcefálico e sugerem duas possibilidades para a sua origem filogenética: 1) tratar-se de um caso de nanismo insular a partir do Homo erectus; ou 2) tratar-se de um caso de migração a partir de África de uma espécie desconhecida ainda mais antiga. Eis a questão, o Homem de Flores sofreu as mesmas pressões ambientais deoutros mamíferos da ilha e reduziu o seu tamanho: tornou-se Floresiano? Ou a sua reduzida estatura era pré-existente à sua chegada à ilha?

A descoberta de outros fósseis desta população e a eventual extracção de ADN mitocondrial poderá esclarecer acerca da verdadeira origem filogenética do hobbit. Lamentavelmente ou não, e tendo como base as problemáticas semelhantes que abundam na Paleoantropologia, novos resultados têm tendência para criar mais perguntas do que respostas. Por falar nisso, gostaríamos de saber algumas das vossas "respostas" para este caso!