É hoje evidente que a Arqueopalinologia deve ser encarada com muitas cautelas. Várias questões apontadas por Gómez Orellana, que eu subscrevo na íntegra, servem para chamar à atenção das limitações desta técnica. Saliento as seguintes:
- A recolha de dados polínicos em jazidas arqueológicas está fortemente condicionado pelo tipo de contextos sedimentares e pelas realidades arqueológicas disponíveis;
- Os contextos sedimentares "secos" são propícios à migração vertical do pólen;
- Os contextos sedimentares "secos" são mais susceptíveis de degradar o pólen, ocorrendo fenómenos de preservação diferencial;
- Os contextos arqueológicos encontram-se por inerência afectados antropicamente;
- Nos contextos arqueológicos, a deposição polínica acontece sem qualquer ritmo calculável, e
- Frequentemente as sequências são incoerentes.
Como tal, a escolha dos contextos a ser amostrados deve ser criteriosa e limitar-se unicamente a níveis orgânicos e a paleosolos bem preservados, ainda assim com um forte controlo da tafonomia.
Por outro lado, a interpretação destes contextos contém também diversos problemas, não podendo ser encarada da mesma forma que as sequências polínicas obtidas em turfeiras e outros contextos similares. Os dados da arqueopalinologia referem-se aos locais associados à acção do Homem e mesmo assim os espectros obtidos são difíceis de interpretar.
Exige-se cautela. Aconselho que a leitura de trabalhos de arqueopalinologia comece por um exame minucioso do capítulo da Metodologia.
Termino esta mensagem com um exemplo caricatural que me foi dado há uns tempos: imaginem que o local no qual se obtém a sequência polínica encontrava-se, no tempo de ocupação da jazida, à sombra de um belo, porventura isolado, carvalho. A sequência polínica obtida daria uma imagem muito interessante da paisagem envolvente: um povoado rodeado de um enorme carvalhal!
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