quinta-feira, 17 de junho de 2010

Torwiesen II – povoado neolítico construído em cinco anos (entre 3283 e 3278 cal BC)

Voltando ao último congresso do IWGP, falo agora da comunicação de Ursula Maier, intitulada “Detecting intra-site patterns with systematic sampling strategies – archaeobotanical grid sampling in lakeshore settlements”.

A autora falou de um povoado muito interessante, Torwiesen II, localizado no sul da Alemanha. Podem ver o resumo da comunicação aqui ou ler mais neste artigo já publicado na revista Environmental Archaeology.

Até agora foram recolhidos nas amostras estudadas (que são somente subamostras) 1.429.734 macrorrestos vegetais de mais de 150 espécies. As recolhas foram feitas com uma estratégia comum a este tipo de sítios lacustres, i.e., recorrendo a tubos de plástico de 10cm de diâmetro e 20 a 30cm de comprimento colocados em cada metro quadrado.

O primeiro aspecto a salientar é o facto da sequência de construção do povoado ser conhecida ao nível do ano. Não é inédito na região, bem pelo contrário. É a vantagem de ter índices de preservação excepcionais e de, por isso mesmo, ter sequências dendrocronológicas muito bem apuradas. Assim, detectando-se as madeiras da construção das cabanas e passadiços, o seu estudo comparado com as finas sequências dendrocronológicas da região – obtidas numa tradição de muitas décadas de estudo em dendrocronolgia da área central da Europa – permite conhecer a data de abate de cada árvore. Deste modo, é conhecida a data de construção de cada casa, assim como dos espaços comuns. É possível conhecer momentos de renovação e obras nos espaços, ano a ano. Em Torwiesen II as 15 casas foram sendo construídas ao longo de cinco anos, entre 3283 e 3278 cal BC.

De resto, estes dados da construção do povoado foram unicamente pormenores na apresentação que se focava nos vestígios carpológicos. A autora detectou áreas de decorticação de cereais, áreas de confecção de alimentos e áreas de lixeira. Foram também encontradas diferenças entre diferentes casas. Algumas casas tinham grandes quantidades de cereais, linho e plantas recolectadas, noutras as espécies cultivadas eram raras enquanto que outras ainda eram especializadas em papoila. A parte curiosa é que as casas com abundantes cereais eram aquelas que tinham maiores dimensões, encontrando-se concentradas, todas elas, na área ocidental do povoado.

A autora considera esta diferenciação na distribuição dos macrorrestos vegetais como uma evidência de diferenciação social. Naturalmente, só uma leitura integral dos resultados arqueológicos permita aferir esta conclusão e afastar a possibilidade de estarmos perante uma mera diferenciação espacial de tarefas.

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