Uma última mensagem sobre o congresso do IWGP.
M. Van der Veen fez, com Jacob Morales e Alison Cox, uma apresentação na linha daquela que já havia feito no último congresso da AEA em York no ano passado. Ainda assim não deixa de surpreender não só pela preservação dos materiais vegetais (dissecados) que apresenta mas principalmente pela abordagem que faz ao tema da alimentação.
Vejam o resumo aqui.
Tal como em York, esta comunicação centrada nos resultados obtidos na jazida romana (séculos I a III d.C.) e muçulmana (séculos XI a XIII) de Quseir, no Egipto, começou com uma citação de A. Sherrat:
“People do not eat species, they eat meals.”
É uma citação muito pertinente que nos relembra que os vestígios arqueológicos que frequentemente tornamos uma abstracção são o reflexo de uma realidade concreta, são o resultado de gestos e processos naturais concretos. Afinal de contas, as comunidades antigas não habitavam sítios arqueológicos mas sim povoações.
A investigação em “foodways”, de inspiração antropológica, trata não só os processos pelos quais um determinado bem alimentar se torna numa refeição, desde a semente ao prato, mas também as práticas sociais associadas à refeição: quem prepara, quem come o quê, como se come.
Em Quseir notam-se diferenças cronológicas ao nível do consumo de melancia. Sendo evidente que o fruto era consumido em ambas as fases, só em época islâmica é que se verificou uma prática de consumo das suas sementes. Foi feito inclusive trabalho experimental para registar e comparar fracturas da casca das sementes. Podem ver este estudo num artigo já publicado.
O consumo de citrinos está também atestado em ambos os períodos. De Citrus cf. medica (Cidra) só surgem sementes pelo que os autores deduzem que as cascas eram consumidas, pois várias receitas romanas e muçulmanas incluem casca deste fruto.
No entanto, surgem cascas de Citrus cf. X aurantifolia (lima). Os frutos surgem cortados ao meio, com claras evidências de lhes ter sido retirado o sumo. Estes vestígios resumem-se unicamente aos níveis islâmicos.
As uvas eram consumidas frescas em época romana enquanto no período islâmico possivelmente também eram consumidas como passas.
Uma última palavra para o surgimento de sementes de Lupinus albus – vulgarmente conhecidos como tremoços. Surge a semente mas também a casca desta em separado, testemunhando o seu consumo bem ao jeito mediterrânico, tal como o fazemos hoje.
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