No último congresso do IWGP Dorian Fuller fez um comunicação muito interessante intitulada “Cultivation as slow evolutionary entanglement: comparative data on the rate and sequence of domestication”. Na sua apresentação, Fuller colocou a seguinte questão: “Rates of change in domestication are different from the rates of change in natural selection?”
Aparenta ser uma questão simples, no entanto é um assunto de extrema importância quando se estuda a neolitização e o inicio das práticas agrícolas no Próximo Oriente. Afinal de contas, os primeiros cultivos eram, na verdade, à base de espécies silvestres. A selecção de sementes, ano após ano, conduziu a alterações morfológicas. São essas sementes alteradas que constituem as espécies domesticadas.
Assim, são necessárias cautelas quando fazemos deduções simples, tais como “a presença de sementes de espécies domésticas num sítio arqueológico é um indício de agricultura enquanto a presença de sementes silvestres é um indício de recolecção”. A verdade é que nas jazidas contemporâneas desta fase de transição – isto é, da fase de domesticação e alteração morfológica das sementes das espécies cultivadas – as sementes de morfologia silvestre de algumas espécies poderão, na verdade, ter origem em práticas agrícolas. Claro que isto só constitui um problema, e um desafio, nos locais de origem de domesticação. No caso dos cereais do nosso Neolítico, o Próximo-Oriente.
Fuller cita os trabalhos experimentais de Hillman e Davies (ver referências abaixo) que concluíram que a domesticação – alteração morfológica com base na selecção de sementes – demoraria entre 20 a 100 anos. No entanto, os dados da Arqueobotânica sugerem que o processo foi bastante mais lento, de 200 a 4000 anos. Isto deve-se provavelmente à continuação da recolecção e cultivo de silvestres, lado a lado com as sementes seleccionadas, permitindo a existência de cruzamentos genéticos.
Conclui Dorian Fuller que houve “not a domestication event but yes a domestication process”.
Referências:
Hillman, G. C., and Davies, M. S. (1990a) Domestication rates in wild-type wheats and barley under primitive cultivation. Biol. J. Linnean Soc. 39: 39–78.
Hillman, G. C., and Davies, M. S. (1990b) Measured domestication rates in wild wheats and barley under primitive cultivation, and their archaeological implications. J. World Prehistory 4: 157–222.
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