Foram divulgados alguns resultados relativos a novos achados hominóides na África do Sul. Os autores do artigo publicado na Science propõem a inclusão desses achados numa nova espécie do género Australopithecus – Aus. sediba. Os fósseis referem-se a dois indivíduos, um juvenil possivelmente do sexo masculino (MH1) e um adulto possivelmente do sexo feminino (MH2). A datação dos restos encontrados em Malapa, que dista apenas 15 km de outros sítios bem conhecidos como Sterkfontein, Swartkrans e Kroomdrai, aponta para uma datação com um intervalo entre 1.95 e 1.78 milhões de anos.
O artigo argumenta que o sediba fará parte da linhagem do Aus. africanus (3.0 a 2.4 milhoes de anos), outro hominídeo nativo desta região, e que poderá ser um ascendente directo da linhagem do género Homo. Os autores descrevem exaustivamente as evidências presentes no esqueleto que apontam para uma evolução em mosaico que dá suporte a essa afirmação. De entre todos os representantes do género australopitecíneo, o sediba apresenta o conjunto mais alargado de traços derivados (apomorfias). Esta hipótese dá lugar a mais dúvidas acerca da real posição dos H. rudolphensis e do H. habilis – seus contemporâneos – que têm sido alvos de acesa discussão.
A árvore evolutiva humana torna-se cada vez mais frondosa, mas há quem se questione se o registo fóssil está a ser bem interpretado e se aquela reflecte o número real de espécies presentes nesse registo. Na realidade, o problema em utilizar a cladística como forma de análise das relações evolutivas consiste na possibilidade de resultar na artificial multiplicação do número de espécies. Este sistema focaliza-se na partilha das apomorfias, os tais traços derivados mencionados anteriormente, estabelecendo assim relações de afinidade entre os diversos organismos. Estas afinidades são representadas na forma de cladogramas, nos quais dois organismos mais semelhantes entre si do que em relação a um terceiro têm teoricamente um antepassado comum mais recente. Um exemplo de cladograma pode ser consultado na figura.
Parece haver um consenso em relação à cladística como sendo o sistema mais prático visto que se baseia na parsimónia e no teste de hipóteses por oposição às avaliações subjectivas a que está obrigada a fenética – outro sistema de classificação. Além disso, a sua utilidade no discurso científico é imenso. No entanto, ao invés de descrever a ordem de surgimento de novas espécies, a cladística descreve apenas a ordem de surgimento de apomorfias independentemente de estas coincidirem ou não com novas especiações. Em teoria, cada clade (grupo de organismos derivados de um único ancestral) deve conter pelo menos uma apomorfia, mas será isto suficiente para a determinação de novas espécies? É claro que no caso da taxonomia relativa aos hominíneos extintos, a cronologia e a geografia têm também um importante papel na determinação de novas espécies. Porém, não podemos deixar de nos questionar se não estamos perante uma multiplicação artificial do número dessas espécies.
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