quarta-feira, 14 de abril de 2010

Monte Areo (Astúrias) - novo estudo polínico centrado na neolitização

Está ainda no prelo o seguinte artigo:

López-Merino, L., Cortizas, A.M., López-Sáez, A. Early agriculture and palaeoenvironmental history in the North of the Iberian Peninsula: a multi-proxy analysis of the Monte Areo mire (Asturias, Spain), Journal of Archaeological Science (2010), doi: 10.1016/j.jas.2010.03.003

Trata-se de um estudo interessante, ainda que não muito diferente de outros realizados em contextos do Norte peninsular. Vou aqui apresentar algumas notas.

A turfeira de Monte Areo localiza-se a 200 metros de altitude, junto a diversos monumentos megalíticos. Este estudo polínico permitiu distinguir diversas zonas polínicas com importância para a compreensão do papel da agricultura na evolução da paisagem da região em questão, o Norte das Astúrias:

Zona MTA-2 (117-64 cm; ca. 8000-5500 cal BP) - Óptimo climático do Holocénico

- Inicio de sequência com aumento de percentagens de Pólen Arbóreo (AP). Seguido de duas fases de diminuição de percentagens de AP. Na primeira, AP diminui 90 a 50%, aumentando a percentagem de Erica (urzes). Segue-se uma recuperação da vegetação arbórea, antes da segunda fase de detrimento de AP, agora associada ao surgimento de pólen de cereal e a indicadores de erosão de solos.

Zona MTA-3 (64-54 cm; ca. 5500-3000 cal BP)

- Nova diminuição de AP, correspondendo a um incremento do polén de cereal (atinge o máximo para toda a sequência - 7,9%). Há novos indicadores de erosão.

Zona MTA-4 (54 cm-top; ca. 3000 cal BP-present)

- Numa fase inicial há uma recuperação de AP, traduzindo a recuperação do carvalhal. Diminuem os indicadores de erosão. Seguem-se duas fases de detrimento de vegetação arbórea. A primeira corresponde a novo aumento de pólen de cereal (atinge os 5,6%). A segunda coincide com a introdução do Eucalipto, aumento de percentagem de Pinus, mas também com maiores indicadores de fogo e pastorícia. Aumenta significativamente a percentagem de vegetação arbustiva.

Em síntese, as principais fases de desflorestação e expansão das formações arbustivas ocorreram a ~7330 cal BP, ~5515 cal BP, ~3860 cal BP, e nos últimos ~1300 anos. As principais fases de erosão ocorreram entre ~6760 e ~3860 cal BP. Por sua vez, a forma como os dados do estudo geoquímico são apresentados torna pouco clara a sua relação com a evolução ambiental da área.

Interessa salientar a importância deste estudo para a compreensão da neolitização e da introdução da agricultura no Norte peninsular. Os autores salientam que a data ~6735-6495 cal BP obtida para o primeiro pólen de cereal nesta sequência é uma das mais antigas para todo o Norte de Espanha, continuando dizendo que “this is consistent with archaeobotanical studies (cited earlier and in Table 3) that demonstrate the adoption of agriculture in northern Iberian Peninsula during the first half of the Vth millennium cal BC, and shows that the spread of agriculture in the north-Atlantic Iberia was a relatively rapid process”.

Embora não rejeite esta ideia, a verdade é que os dados que os autores citam na sua tabela 3 não parecem corroborar as suas afirmações. As datações directas de cereais parecem apontar não para a primeira metade do V milénio mas sim para a segunda, porventura para o início da segunda. As outras datações (sobre carvão ou ossos), assim retiradas dos seus contextos, sem sequer uma análise sumária, são difíceis de analisar. Outros textos já citados neste blogue em mensagens anteriores mencionam um pouco o problema em torno desta questão.

Este estudo é importante, sem dúvida, sendo especialmente relevante a data, tão antiga, do primeiro pólen de cereal. Esta sequência comprova também algo muito importante, já assumido por diversos autores: a pastorícia é anterior à agricultura nesta região mas não a antecede em tantos séculos quanto muitos pensavam. Por outro lado, os autores pecam por não explorar a relação dos dados paleoambientais desta turfeira com os inúmeros monumentos megalíticos que estão nas suas proximidades. Certamente haveria muito a dizer acerca do assunto.

Este estudo constitui mais um acervo de dados a ter em conta no estudo do Neolítico do Norte peninsular; mais estudos são necessários.

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