sábado, 22 de janeiro de 2011

Dendrocronologia: "2500 Years of European Climate Variability and Human Susceptibility"

Foi publicado esta semana na revista Science um artigo que, através de um estudo dendrocronológico, tenta relacionar eventos históricos bem definidos com alterações ao nível ambiental.

No Centro da Europa foi recolhida uma série de dados dendrocronológicos de origem em árvores actuais, madeira de construção e madeira fóssil que permitem fazer inferências climáticas acerca dos últimos 2500 anos assim como documentar actividades de corte de árvores. Os elementos de registo são impressionantes e frequentemente comparáveis com fontes históricas. A título de exemplo:

"A total of 87 different medieval written sources comprise 88 eyewitness accounts of regional hydroclimatic conditions (with 1-7 reports per year) resolved to the year or better, which corroborate 30 out of 32 of the extremes preserved in our oak record between AD 1013 and 1504, whereas 16 reports have been found to be contradictory."

O grande conjunto de autores deste estudo demonstram existir uma evidente correlação entre diminuição de área florestada e aumento de população. Durante a peste negra, a população diminui e a área florestada aumenta. O mesmo acontece, ainda que de forma menos marcada, no período de crise e posterior desmantelamento do Império Romano do Ocidente (250-400 DC). Este último período corresponde, segundo o registo dendrológico, a uma fase de marcada instabilidade climática e forte aumento de precipitação, o que poderá ter acelerado ou pelo menos condicionado a crise socio-económica verificada na região. Por outro lado, fases historicamente tidas como de apogeu ao nível socio-económico, tais como a fase imperial romana e a Idade Média, apresentam um registo paleoambiental oposto:

"Average precipitation and temperature showed fewer fluctuations during the ~AD 1000-1200 period of peak medieval demographic and economic growth."

Em suma, "agrarian wealth and overall economic growth might be related to climate change on high- to mid-frequency (inter-annual to decadal) time-scales." Saliento o potencial dos estudos dendrocronológicos para as abordagens paleoclimáticas e, de um modo geral, paleoambientais. A possibilidade de fazer inferências numa escala anual e ao nível da década não tem paralelos em outras abordagens, por exemplo nos estudos polínicos, onde a escala temporal é um aspecto com o qual é mais difícil de lidar dada a natureza das séries sedimentares que servem de base aos estudos e o aporte de trabalho que representa o estudo de séries temporais de resolução fina.

Referência:
Büntgen U, Tegel W, Nicolussi K, McCormick M, Frank D, Trouet V, Kaplan JO, Herzig F, Heussner K-U, Wanner H, Luterbacher J, Esper J 2500 Years of European Climate Variability and Human Susceptibility. Science

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