segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Neanderthal-dooby-doo, where are you?

O Homem de Neandertal é provavelmente, o nosso parente extinto mais famoso. Tal como nós, foi produto de uma evolução no sentido da encefalização, do bipedismo proficiente e da competência na produção de ferramentas. Porém, o seu estatuto é hoje também o produto de uma evolução ao nível da postura científica e esteve durante muito tempo acorrentado a preconceitos que, há mais de cem anos atrás resultaram na atribuição de uma natureza brutal, bárbara e quase simiesca a este hominídeo. Esta representação manteve-se na imagética popular durante muito tempo, e para alguns, estas características ainda lhe estão conotadas. Porém, a produção científica actual permitiu-nos distanciar dessas primeiras representações, e as últimas décadas têm assistido a uma crescente “humanização” deste nosso mais próximo conterrâneo evolutivo. Provavelmente, um Neandertal com um corte de cabelo “maneirinho” e enfarpelado com as vestimentas de um qualquer “prêt-a-porter” não suscitaria mais “virares-de-cabeça” do que os punks malabaristas da Rua de Santa Catarina. Seja qual for a postura, os Neandertais têm estimulado a nossa imaginação desde que a famosa calote craniana do Vale do Neander na Alemanha foi desenterrada em 1856.
Apesar de ter ocupado e explorado uma área extensíssima que compreende grande parte do território europeu e algumas das regiões mais ocidentais da Ásia, este tão bem-sucedido hominídeo acabou, como tantos outros antes dele, por definhar e deixar menos frondosa a árvore referente à linhagem humana. A sua sobrevivência resume-se hoje a uma pequena participação no nosso património genético actual, cuja expressão fenotípica aparenta ser de tal forma diminuta que apenas a sequenciação do ADN nuclear foi capaz de a confirmar sem margem para dúvidas. A Península Ibérica tem sido apontada como local do último reduto Neandertal, inferência feita essencialmente a partir da cultura material que a arqueologia tem apresentado ao Mundo. Porém, por comparação com os achados humanos descobertos em Espanha, o nosso próprio pecúlio tem sido reduzido e algo desapontante. Resume-se a um punhado de dentes e ossos desarticulados, sendo que os mais recentes achados têm a Gruta da Oliveira (Torres Novas) como proveniência. Dada a escassez de restos humanos encontrados neste rectângulo à beira-mar plantado, é legítimo questionar a que razão ou razões se deve este cenário e o que podemos fazer para o alterar. Questionámos alguns dos especialistas nacionais acerca desta questão e apresentamos aqui as suas perspectivas em discurso directo.

Para João Zilhão – Professor em Arqueologia Paleolítica na Universidade de Bristol – a causa para este cenário é clara. Encontrei restos humanos em todas as jazidas que escavei, incluindo as do Paleolítico Médio. Se há menos em Portugal do que noutros lados a razão é simples: é que em Portugal se escava muitíssimo menos. Não há menos restos, há menos escavações.

Esta visão é em parte partilhada pelo Director do Museu Nacional de Arqueologia, Luís Raposo. Poderá ser a pouca investigação (escavação) moderna, especialmente em grutas, já que em sítios de ar livre é mais raro encontrar fósseis humanos, aqui ou noutros países. Porém, Raposo acredita que esse não é o único factor explicativo. A verdade é que não foi ainda encontrada em Portugal nenhuma gruta com uma ampla ocupação do Paleolítico Médio. Pelo contrário, ocorre que em quase todas as grutas onde se registaram presenças do Paleolítico Médio estas são muito discretas, quase vestigiais, mesmo quando nos níveis superiores existem densas ocupações do Paleolítico Superior. A única excepção poderá ser a Gruta Nova da Columbeira, que possui uma ocupação intensa do Paleolítico Médio e uma ausência de vestígios do Paleolítico Superior, devida talvez à circunstância de a cavidade ser já infrequentável pelo homem nessa fase. Foi aqui que se recolheu o mais antigo resto neandertalense descoberto em Portugal, mas apenas um fragmento de dente, quando a fauna é abundante. Terão os métodos de escavação usados deixado passar outros vestígios? Não sei.

Luís Raposo tende a considerar que este padrão de menor ocupação das grutas durante o Paleolítico Médio nesta Finisterra portuguesa é real e já o procurou explicar através de padrões de ocupação do território [cf., por exemplo, RAPOSO, L. (1995) - “Ambientes, territorios y subsistencia en el Paleolítico Medio de Portugal”, Complutum, nº. 6, Madrid, pp. 57-77].

Também as condições climáticas gerais poderiam ir no mesmo sentido. A ideia do homem de Neandertal como um “bruto troglodita” é totalmente errónea. Nem eram assim desprovidos de capacidades intelectuais, nem tinham gosto especial por habitar em cavernas. Ora, numa região em que o clima nunca tivesse atingido os rigores glaciários da Europa mais setentrional, é fácil pensar que os bandos de Neandertais ocupariam preferencialmente os vales dos rios e os maciços periféricos a baixa altitude, vivendo principalmente em acampamentos de ar livre e sendo por isso mais “invisíveis” hoje no registo arqueológico. Admito também que, ainda por cima, fossem menos, quer dizer que houvesse uma menor densidade populacional, mas quanto a isso apenas podemos por agora ter “impressões”.

Nuno Bicho, professor na Universidade do Algarve afirma que a questão é interessante e muito relevante no estudo da Pré-história portuguesa e, infelizmente, aplica-se também a outros momentos da Pré-história Antiga, como é o caso do Paleolítico Inferior. Na sua perspectiva, parece haver um conjunto alargado de factores limitadores do número e qualidade de sítios arqueológicos do Paleolítico Médio em Portugal. Provavelmente, há quatro factores principais: o reduzido número de investigadores em Paleolítico e especificamente em Paleolítico Médio; o deficiente treino e ensino em Paleolítico e em análise de indústria líticas; a falta de trabalho de prospecção dedicada ao Paleolítico; e o contexto da geologia e da geomorfologia.
De facto, no âmbito académico há apenas, neste momento três docentes universitários (nas Universidades do Minho, Lisboa e Algarve) que se especializaram e que fazem investigação continuada nesse período. O resultado prático é que o número de alunos que se interessam por Paleolítico é reduzido nos cursos de licenciatura de Arqueologia e, naturalmente, por razões demográficas, diminui sensivelmente conforme se avança no grau académico. Apesar de tudo, temos um conjunto de recém-doutorados e de doutorandos apreciável em Paleolítico, atendendo ao número total de alunos de Arqueologia. Mas também é verdade que o número de alunos que trabalha em Paleolítico Médio é reduzido – tomando a Universidade do Algarve como exemplo (talvez como referência?), existem neste momento 12 doutorandos, dos quais 8 trabalham em Paleolítico (ainda que nem todos tenham esse período como foco da sua tese) e desses 8 não há nenhum a trabalhar em Paleolítico Médio. Do conjunto de investigadores da Universidade do Algarve, eu incluído, há cerca de uma dúzia de pessoas a trabalhar em Paleolítico, e apenas duas trabalham directamente, ainda que não exclusivamente, com Paleolítico Médio.

Para Nuno Bicho, o ensino de matérias relacionadas com o Paleolítico, bem como de especialidades fundamentais no seu estudo como é a geoarqueologia, a arqueometria e a zooarqueologia, é claramente deficiente na maior parte das universidade portuguesas, principalmente no caso das licenciaturas. Unidades curriculares (para aqueles que estão afastados dos estudos superiores há algum tempo, este termo significa “disciplinas”) dedicadas a análise de materiais líticos são raríssimas em Portugal e, claro, se um aluno não souber reconhecer artefactos líticos talhados, muito dificilmente irá encontrar sítios arqueológicos da Pré-história antiga.

O terceiro factor é o do tópico da investigação – raramente em Portugal aparecem projectos de investigação dedicados inteiramente à prospecção arqueológica e, claro, menos ainda dedicados ao Paleolítico. O resultado é que os poucos sítios Paleolíticos que se encontram hoje são revelados acidentalmente ou através de estudos de impacto. Como um grande número de arqueólogos não tem a preparação suficiente para reconhecer artefactos líticos paleolíticos, estes sítios não são encontrados.

Contudo, parece que apesar de todos estes factores condicionantes, deveria haver mais sítios arqueológicos. A verdade é que nos últimos 20 anos, o número de sítios arqueológicos do Paleolítico Superior verdadeiramente importante cresceu exponencialmente (Cabeço do Porto Marinho, Lagar Velho, Vale Boi, Picareiro, Coelhos, Anecrial), o que não aconteceu relativamente ao Paleolítico Médio – de facto, com a excepção dos trabalhos de João Zilhão no Complexo Arqueológico do Almonda, especialmente na Gruta da Oliveira e, mais recentemente, o de Jonathan Haws em Mira Nascente (ainda que com outra dimensão), não houve outros sítios novos de Paleolítico Médio verdadeiramente relevantes. Esta falta de sítios do Paleolítico Médio deve-se muito provavelmente às condições geológicas das jazidas com esta cronologia. É possível que se encontrem soterradas por baixo de coluviões mais recentes ou em terraços fluviais e marinhos de grande potência que dificultam a sua detecção. É também claro que em alguns pontos do país, nomeadamente o Algarve, se deu, provavelmente durante o Holocénico antigo, a erosão completa de terraços e outros depósitos do Pleistocénico Superior. E assim, perderam-se inúmeros sítios arqueológicos datados do Paleolítico Médio.

Em relação aos factores geológicos, seria talvez interessante fazer um levantamento completo e sistemático das condições de jazida de todos os sítios arqueológicos do Paleolítico Médio de forma a, e com base nesse estudo, desenvolver padrões preditivos de localização de jazidas Moustierenses. Este trabalho foi feito para o Paleolítico em geral para o vale do Sado por uma equipa canadiana, com base nos dados de um projecto meu de prospecção paleolítica para o Algarve. Naturalmente, foram encontrados um conjunto razoável de sítios arqueológicos, nomeadamente alguns do Paleolítico Médio e que, espera-se, sejam aceites para publicação em breve.

Aqui ficaram os relatos de três especialistas nacionais, a quem muito agradecemos a sua colaboração. Do seu discurso resulta a ideia que ainda muito há a fazer para colmatar algumas das lacunas que o nosso registo arqueológico apresenta em relação a achados humanos. Porém, também fica a ideia que esse registo irá ser gradualmente enriquecido por novas descobertas à medida que o investimento em investigação, recursos materiais e recursos humanos for aumentando. Aqui estaremos para dar conta desses novos achados.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

TSF/IGESPAR: As hortas monásticas: Santa Clara-a-Velha

Em mais um dos programas de rádio "Encontros com o Património", será feita uma reportagem acerca dos trabalhos arqueológicos e de musealização que decorreram no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha (Coimbra) onde está previsto falar-se também dos trabalhos de paleoecologia e arqueobotânica aí realizados.

Dois dos relatórios do CIPA referentes aos trabalhos realizados com amostras recolhidas em Santa Clara-a-Velha encontram-se disponíveis aqui (Trabalhos do CIPA 97, parte 1), aqui (Trabalhos do CIPA 97, parte 2) e aqui (Trabalhos do Cipa 108). São trabalhos muito ricos em informação, justificando assim o título do programa de rádio que irá para o ar hoje ou amanhã (os sites da TSF e do IGESPAR apresentam datas diferentes) e que, posteriormente poderá ser ouvido no site da TSF ou seguindo o link do site do IGESPAR.

Eis a apresentação do programa como disponível no site do IGESPAR:
“As hortas monásticas: Santa Clara-a-Velha”

A vida quotidiana dos Mosteiros é geralmente uma temática menos explorada face ao conhecimento desenvolvido em torno dos seus aspectos artísticos. Porém, a implementação de programas interdisciplinares permitem aprofundar a informação sobre estes locais, nomeadamente através das arqueociências que nos devolvem um olhar mais completo sobre os locais. Foi precisamente o que se passou no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha, passando-se a conhecer um pouco melhor os seus hábitos alimentares ou a produção que se fazia nas hortas, por exemplo. O actual projecto da “horta monástica de Santa Clara-a-Velha” visa precisamente articular o conhecimento desse passado com as actuais preocupações de natureza ambiental e de sustentabilidade. Estas são algumas das questões a explorar pelo jornalista Manuel Vilas – Boas que conversa com o Professor Saul Gomes Mendes, os Drs Artur Corte Real e Lígia Gambini e a Engª Elsa Canavarro.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

JIA 2010

Ainda no âmbito das IV Jornadas de Jovens em Investigação Arqueológica, divulga-se aqui novo apelo a contribuições para uma sessão organizada por investigadoras da Universidade Autónoma de Barcelona.

"As IV Jornadas de Jovens em Investigação Arqueológica - JIA 2011 – são um evento científico realizado por e para investigadores (não doutorados) em Arqueologia, que irá realizar-se de 11 a 14 de Maio de 2011, no Campus Gambelas da Universidade do Algarve (www.jia2011.com). Neste sentido, irá ser proposta uma sessão sob o tema:

'Novas abordagens em arqueologia: tecnologias digitais e metodologias computacionais'.

Os objectivos desta sessão consistem em debater tecnologias inovadoras que nos ajudem a investigar, compreender e visualizar a dinâmica de padrões socioculturais através dos tempos, bem como representar o património cultural; partilhar novas perspectivas sobre métodos computacionais aplicados à arqueologia; e incentivar o diálogo entre os participantes sobre as questões teórico-metodológicas inerentes.
Esta sessão não se encontra dirigida a nenhuma área de estudo ou período cronológico/cultural específicos, de modo a permitir a contribuição de um maior número de participantes.
Desta forma, procuramos contribuições que avancem o estado da arte das tecnologias e metodologias disponíveis, que contribuam para a resolução de questões arqueológicas específicas, nomeadamente:

•Simulação arqueológica e modelos preditivos;
•Modelos baseados em agentes;
•Inteligência artificial;
•Captura 2/3/4D (fotogrametria, laser, luz branca estruturada), processamento e análise digital de dados;
•Morfometría geométrica;
•Métodos quantitativos;
•Visualização, colecções digitais e representação virtual do património.
Aos interessados em participar nesta sessão, pedimos que nos enviem o respectivo tema de comunicação e contactos (nome, instituição, email, telefone) para veramoitinho@gmail.com até 30 de Novembro, de maneira a incluir na proposta a enviar à comissão organizadora do JIA.


Gratas pela atenção,

Vera Moitinho de Almeida
(Universitat Autònoma de Barcelona)

Florencia del Castillo
(Universitat Autònoma de Barcelona)"

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Smithsonian: Bolsa Post-Doc

Divulga-se o seguinte concurso:

2011 call for Smithsonian Interdisciplinary Post-doctoral Fellowship

The Office of Fellowships (Undersecretary of Science at the Smithsonian Institution) is offering an Interdisciplinary Postdoctoral Fellowship in the area of stable isotope sciences. Research proposals must integrate the use of stable isotopes (2H/1H, 13C/12C, 15N/14N, and 18O/16O) into their specific research questions. The successful applicant will conduct analyses at one of the two Pan-Institutional isotope facilities (OUSS/MCI Stable Isotope Mass Spectrometry Facility in Suitland, MD or at the Smithsonian Tropical Research Institute, Panama City, Panama). Applicants interested in this fellowship are strongly encouraged to contact potential advisors/hosts at any of the Smithsonian's various Museums and Research Units prior to proposal preparation and submission. Please consult the research staff listed for the Museum, Research Units, and Offices at the links to Smithsonian Opportunities for Research and Study below.

Applicants must propose to conduct research in-residence for a period of 12months, at least 4 months of which will be spent on-site at the MCI or STIR laboratory. Applicants must have completed or be near completion of the Ph.D. Recipients who have not completed the Ph.D. at the time of application must provide proof of completion of the degree before the fellowship begins. Please go to http://www.si.edu/research+study for details on the SI fellowship program. Applications must be submitted by Jan. 15, 2011. Access to the online application system and information regarding the necessary materials can be found at http://www.si.edu/ofg/Applications/SIFELL/SIFELLapp.htm

For additional information on the OUSS/MCI Stable Isotope Mass Spectrometry Facility in Suitland, MD (http://si.edu/mci/irms/index.htm) contact Christine France (francec@si.edu), Peter Marra (marrap@si.edu), or Jeff Speakman (speakmanj@si.edu)

JIA 2011 - Abordagens interdisciplinares à interacção Homem-Natureza

No âmbito das IV Jornadas de Jovens em Investigação Arqueológica (JIA 2011 - www.jia2011.com) que realizar-se-á em Maio de 2011 em Faro, na Universidade do Algarve está a ser pensada uma sessão subordinada ao seguinte tema:

Abordagens interdisciplinares à interacção Homem-Natureza
(Interdisciplinary approaches to Human-Nature interactions)

Pretende-se com esta sessão juntar em debate investigadores das mais diversas áreas temáticas, desde a Arqueologia Ambiental à Arqueologia da Paisagem. Trata-se de uma sessão temática e cronologicamente abrangente, versando, a título de exemplo, os seguintes temas:
- Modelos de utilização dos recursos geológicos e biológicos por parte do Homem,
- Dinâmicas territoriais e de povoamento, e
- Inter-relação entre alterações ambientais e dinâmicas sócio-culturais.

Caso estejam interessados em contribuir com comunicações peço que me contactem até 5 e Dezembro através do e-mail jptereso@gmail.com fornecendo os seguintes dados:
- Nome
- Instituição (se aplicável)
- Contacto (e-mail)

As comunicações estão circunscritas a não doutorados.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Pedoantracologia

A pedoantracologia é uma disciplina em ascensão. Consiste basicamente no estudo de carvões recolhidos em sequências sedimentares. Usualmente associados a estudos de índole geomorfológico, estes estudos têm vindo a ganhar espaço como área científica, fortalecendo o seu corpo conceptual e o conjunto de técnicas que lhes está associado.

Este ano realizou-se em França o primeiro workshop dedicado à pedoantracologia, "First International Workshop of Pedoanthracology. Pedoanthracology and environmental Studies.", o qual noticiamos aqui, embora com evidente atraso.

O site oficial do evento encontra-se aqui e o programa aqui.

Quero salientar três apresentações:


Pedoanthracology: an important tool for the identification of reference ecosystems in ecological restoration projects
THIERRY DUTOIT, IMEP, Professor Université d’Avignon

Pedoanthracology as a climato-stratigraphical tool: data from Cordillera Real, Northern Andes
STEFANIA IMPAGLIAZZO et al., Portici (Italy)

Pedoanthracological contribution to forest naturalness assessment
VINCENT ROBIN et al., Kiel (Germany) & Aix-en-Provence (France)

Porquê estas apresentações? Porque espelham bem como esta disciplina poderá apresentar dados interessantes para área que vão bem além da Arqueologia e das ciências do passado e entram no domínio da ecologia e mesmo das práticas de conservação e restauro de ecossistemas.

Exemplos para seguir em Portugal no futuro.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Datações de radiocarbono e dados climáticos para a Neolitização no Próximo-Oriente

Mais um novo estudo de um tema tão badalado da arqueologia internacional: a Neolitização no Próximo-Oriente.

Desta vez vários autores propõem-se a rever todos os dados climáticos e as datações de 14C disponíveis para a área do Levante. Para além de um evidente determinismo ambiental com o qual pretendem explicar as grandes mudanças ocorridas na região, os autores concluem que é urgente obter novas datações para alguns sítios-chave pois as que estão hoje disponíveis não podem ser consideradas válidas. Aliás, a visão que constroem com o presente artigo só foi possível excluindo inúmeras datações que consideram terem sido obtidas de forma errada e que somente provocam barulho em toda a discussão deste tema - datas descontextualizadas, com intervalos de tempo demasiado grandes ou com materiais não sujeitos aos devidos procedimentos laboratoriais. Eis os critérios utilizados na filtragem, ou melhor, na exclusão de datações:

"1. Dates where there was not secure association in the literature to the event in question,
2. Dates where we could not ascertain what material had been directly dated, this is very important given the well known problems with radiocarbon dates on mixed material.
3. Dates where we could not ascertain a likely reliable pre-treatment strategy, such as older dates on bone, where successful collagen extraction and removal of contaminants was unlikely, again this is a significant problem and the dates of poorly treated bone have been shown to be incorrect on the order of several thousand years (Jacobi and Higham, 2008).
4. Dates that were undertaken before the late 1980s where large laboratory measurement uncertainties meant that the ages were likely to cause more confusion than add value (note most of these dates were already rejected by other specific quality assurance criteria)."

Este problema deve ser entendido como crucial na interpretação de um evento tão importante como a Neolitização. Este problema é uma realidade também em Portugal, por exemplo, na datação do fenómeno Campaniforme na Estremadura portuguesa onde em alguns casos são utilizadas datas obtidas sobre carvõe de proveniência duvidosa no interior dos povoados (e.g. Penha Verde e Verdelha do Ruivos).

Fica aqui o resumo do artigo que motivou esta mensagem:

" This paper re-examines the chronology and environmental context for the transition to agriculture in the Southern Levant, seen as the likely starting point for the adoption of agriculture in Europe and the Near East. The role in this process of abrupt late Quaternary climate change has been discussed widely, but limitations on the archaeological and palaeoenvironmental chronologies have led to varying interpretations. Here we attempt to clarify the situation by first testing the available radiocarbon database for the archaeological transitions from the Natufian through to the PPNA. We apply internationally accepted radiocarbon quality assurance procedures and find that a significant number of the published dates fall bellow acceptable standards. The cleaning process significantly clarifies and constrains the reported time ranges for the Natufian, Late Natufian and PPNA. We then apply the new IntCal09 calibration curve and Bayesian calibration methods, using the archaeological phasing to constrain the data and calculate the most likely timing of the transitions between each phase. We then compare the onset and duration of archaeological phases to data representing the key Northern Hemisphere climatic transitions, using the new GICC05 Greenland Ice core timescale and the timing of transitions between wet and dry phases in the southern Levant from published high precision isotopic analyses of Speleothem data. The results of this exercise present the currently best available chronology for these events and suggest that during the second part of the Lateglacial interstadial, drying of the southern Levant may have triggered the transition to the Late Natufian, when hunter-gatherer communities resorted to a more mobile lifestyle. The Late Natufian culture appears to have disappeared from the southern Levant during the Younger Dryas, as drying intensified. There is then a gap in well dated evidence for human occupation until a reappearance of humans at the onset of the Pre-Pottery Neolithic A (PPNA) period at the beginning of the Holocene. Thus the onset of the Holocene can be hypothesised to be the driver behind the onset of the Neolithic in this region."

Referência:
Blockley SPE, Pinhasi R A revised chronology for the adoption of agriculture in the Southern Levant and the role of Lateglacial climatic change. Quaternary Science Reviews In Press, Corrected Proof:

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Conferências no MNA



A investigadora Susana Carvalho (Leverhulme Centre for Human Evolutionary Studies, University of Cambridge/Centro de Investgação em Antropologia e Saúde, Universidade de Coimbra) dará uma palestra amanhã às 18 horas no Museu Nacional de Arqueologia. Intitulada "As origens do Olduvaiense: serão os chimpanzés bons modelos para a evolução das primeiras tecnologias em Africa?", esta comunicação é realizada no âmbito do ciclo de conferências co-organizado pelo MNA, pelo Grupo de Estudos em Evolução Humana e pelo Núcleo de Arqueologia e Paleoecogia da Universidade do Algarve.

domingo, 7 de novembro de 2010

Trabalho de Campo no Sudão

O Museu Britânico procura voluntários para trabalho de campo no Sudão. Aqui fica o anúncio original:

The Amara West research project, based at the British Museum is currently looking for a person to join the fieldwork in the cemeteries at Amara West, Sudan from early January to late February 2011.

Experience required:
- sufficient experience in excavation, recording and documentation (digital and non-digital) of human remains and burials
- working in hot and dry climates
- supervision of a team of local workmen (knowledge of Arabic is not required)

Accommodation will be basic and provided in a mudbrick house in a village on Ernetta Island, with 2-3 people sharing a room, electricity is confined to evening hours, running water is very scarce.

Please note that this is an unpaid job. However, all expenses (travel, accommodation, food, medication) will be covered during the time of the project.

For further information on the project see: http://www.britishmuseum.org/research/research_projects/amara_west_research_project.aspx
Applications including a CV and two references can be sent directly to the project director Dr. Neal Spencer: nspencer@thebritishmuseum.ac.uk Deadline for application is November 20th.

For any general questions regarding the job or project please contact Michaela Binder: michaela.binder@durham.ac.uk

sábado, 6 de novembro de 2010

Arqueociências na TSF

Manuel Vilas-Boas e a TSF levaram os "Encontros com o Património" ao Laboratório de Arqueociências do IGESPAR e deu a conhecer ao grande público os investigadores residentes e os domínios científicos ali trabalhados.

A entrevista focou a importância da Arqueozoologia, Paleobotânica, Paleotecnologia Lítica e Paleobiologia Humana para a reconstrução e compreensão do Passado. A entrevista pode ser escutada integralmente aqui.