Continuando a falar da realidade arqueológica do Norte de África, não posso deixar de salientar o projecto de investigação a decorrer na Gruta de Contrebandiers, em Marrocos. Este projecto - Norte Americano na sua base - conta com a participação de uma arqueóloga - e geoarqueóloga - portuguesa, Vera Aldeias (University of Pennsylvania), uma das autoras deste blogue.
No último congresso do JIA, realizado em Faro, foi feita uma apresentação que permitiu compreender a importância do trabalho aí realizado e o papel determinante de uma abordagem interdisciplinar para a compreensão da jazida. Fica aqui o resumo:
"Entre o Atlântico e o Deserto: estratigrafia e processos de formação do registo arqueológico na Gruta de Contrebandiers em Marrocos.
Integrada na costa Atlântica junto da capital de Rabat, a gruta dos Contrebandiers é considerada uma das mais relevantes jazidas paleolíticas em Marrocos. Tendo sido alvo de várias intervenções arqueológicas, a sequência sedimentar preservada incorpora indústrias atribuíveis ao Epipaleolítico e ao Paleolítico médio (nomeadamente indústrias Aterienses e indústrias atribuíveis ao Mousteriense Marroquino). Apesar do seu reconhecimento arqueológico, diversas questões relativas à integridade dos conjuntos artefactuais, quais os processos subjacentes à formação da sequência sedimentar, ou qual o seu enquadramento paleoambiental continuam em aberto. Aliando primordialmente descrições litoestratigráficas e observações micromorfológicas, o estudo aqui apresentado tenta responder directamente a estas questões.
A arquitectura estratigráfica da Gruta dos Contrebandiers é caracterizada por uma sequência regressiva, com a deposição, nos níveis basais da cavidade, de sedimentos marinhos localmente remobilizados. A incorporação de elementos antropogénicos, testemunhando a primeira ocupação humana da gruta, encontra-se associada com um ambiente de destabilização dos solos exteriores e com condições climáticas de maior pluviosidade. A sequência estratigráfica subjacente é relativamente homogénea em termos litológicos, caracterizando-se por uma constante interacção de elementos geogénicos (associados com a desagregação do tecto/paredes da cavidade, e a incorporação de sedimentos externos), com unidades distinguíveis pelo maior contributo de sedimentos antropogénicos. Não obstante a presença de relevantes processos tafonómicos (nomeadamente bioturbação e processos de fosfatização), a maioria dos conjuntos artefactuais atribuíveis ao Paleolítico médio encontraram-se relativamente bem preservados. Pelo contrário, as unidades associadas aos níveis Epipaleolíticos encontram-se em posição secundária – asserção que é também comprovada pelo quadro de datações obtidas para estes níveis."
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