segunda-feira, 31 de maio de 2010

IWGP - Congresso a decorrer

Está a decorrer o congresso do International Work Group for Palaeoethnobotany. No seguinte endereco podem ver os posters que estao em exposicao:

http://www.palaeoethnobotany.com/posters.php

Peco desculpa pela qualidade da escrita mas este teclado alemao é um pouco estranho.

domingo, 30 de maio de 2010

O Ardipithecus Tem Futuro Como Nosso Antepassado?

O último número da Science encerra uma discussão relativa à linhagem do Ardipithecus ramidus e da sua alegada posterioridade à divergência entre humanos e chimpanzés. White e colegas passaram os últimos anos a analisar os restos fósseis deste primata extinto e publicaram os resultados no ano passado. No seu entender, este género surgiu após a divergência entre a linhagem que deu lugar ao chimpanzé e a linhagem que originou o género Homo. Sarmiento et al. (2010) disputam agora esses resultados e defendem que os caracteres morfológicos utilizados como evidência da sua pertença à clade humana por oposição à dos chimpanzés não são exclusivos da primeira. Pelo contrário, argumentam que estão também presentes em primatas extintos anteriores à divergência.

Num segundo ponto, Sarmiento et al. (2010) consideram que as evidências físicas de bipedismo habitual ou facultativo indicadas pela equipa de White não são exclusivas dessa forma de locomoção, porque servem também os requisitos mecânicos do quadrupedismo. Com base nestes argumentos, argumentam que o A. ramidus não faz parte da linhagem do homem moderno após a sua divergência com o chimpanzé.

A leitura do artigo suscitou-me algumas questões que são aliás focadas na resposta de White et al. (2010) publicada no mesmo volume da Science. Ao ler o texto, fica a impressão que a equipa de Sarmiento seleccionou os dados mais favoráveis às suas alegações esquecendo outros mais problemáticos. Por exemplo, afirmam que o último antepassado comum (last common ancestor no original) dos chimpanzés e humanos modernos terá vivido entre 3 e 5 milhões de anos antes do Presente. Porém, esquecem-se de mencionar que grande parte das estimativas recuam a data para 6, 7, 8 ou mesmo mais milhões de anos. Neste cenário, o A. ramidus não poderia ser anterior à divergência, visto que tem cerca de 4,4 milhões de anos.

Por outro lado, também os caracteres morfológicos discutidos acabam por deixar de fora um dos critérios mais habitualmente utilizados para inferir o bipedismo a partir do esqueleto: a posição do foramen magnum. Esta estrutura encontra-se na base do crânio e articula com a primeira vértebra cervical. No homem moderno, o foramen magnum encontra-se numa posição anterior indicativa de bipedismo. Em relação a nós, esta estrutura encontra-se numa posição mais posterior no crânio do chimpanzé e por seu lado, no A. ramidus apresenta uma posição intermédia entre aqueles e os humanos modernos. Aliás, o registo fóssil demonstra uma evolução do foramen magnum que foi adoptando gradualmente uma posição cada vez mais anterior. Esta evolução acompanhou a do bipedismo para formas cada vez mais bem adaptadas que atingiram grande eficiência com o género Homo.

Tal como White et al. (2010) afirmam, as explicações de Sarmiento et al. (2010) não são as mais parcimoniosas. Falta-lhes simplicidade e uma visão mais geral do registo fóssil. Por enquanto, as novas alegações relativas a uma provável anterioridade do A. ramidus em relação à divergência Homem/Chimpanzé parecem ter pouco suporte, mas tal não significa que aquele pertença de facto à linhagem humana. Pode tratar-se de um simples beco evolutivo. Veremos no futuro o que este debate nos reserva.
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Sarmiento, E. et al. (2010). Comment on the Paleobiology and Classification of Ardipithecus ramidus Science, 328 (5982), 1105-1105.

White, T., Suwa, G. and Lovejoy, C. (2010). Response to Comment on the Paleobiology and Classification of Ardipithecus ramidus Science, 328 (5982), 1105-1105.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Bolsas em Antropologia

Abaixo segue o anúncio de um concurso de atribuição de bolsas para o Departamento de Antropologia da Universidade de Durham:

PhD Teaching Bursaries
Department of Anthropology


The Department of Anthropology at Durham University invites applications from potential new PhD research students in all areas of Anthropology (but especially Development Anthropology, Evolutionary Anthropology, Medical Anthropology or Public Culture) for Teaching Bursaries. Teaching Assistants are appointed for one-year in the first instance and are renewable for two further years subject to teaching needs and satisfactory performance. PhD applicants need an MA/MSc in a relevant discipline, a satisfactory research proposal for which we have an appropriate supervisor, good academic references and evidence of meeting the University’s competency criteria in English language. Applicants are advised to contact a potential supervisor to discuss the research proposal. A list of staff interests can be found at http://www.dur.ac.uk/anthropology/staff/.

Up to 6 bursaries will be awarded and are equivalent to a tuition fee waiver at the Home/EU rate for the academic year. Full-time students should expect a teaching load in the region of 60 contact hours per year, plus preparation, marking and meeting attendance (30 hours for part-time). Teaching will be for 1st and 2nd year undergraduate classes and may be based at both Durham and Queen’s campuses.

Full terms and conditions are on the application form available at http://www.dur.ac.uk/anthropology/postgraduate/pg_funding/. Completed application forms should be sent to Kate Payne, PG Administrator, Department of Anthropology, Durham University, Dawson Building, Durham, DH1 3LE by the deadline of Wednesday 9th June 2010. Contact Kate Payne kate.payne@durham.ac.uk or 0191 334 1608 for queries.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Homenagem Póstuma

É por vezes difícil encontrar as palavras certas para um post. Desta vez, a dificuldade ganha novos contornos porque este post trata de uma perda. Trata do desaparecimento de alguém que vai deixar irremediável saudade naqueles com quem conviveu. Refiro-me ao Nuno Caldeira, falecido ontem de forma súbita e consternadora.

O Nuno era “informático” e passou grande parte da sua vida adulta ao serviço do ex-Instituto Português de Arqueologia e do actual IGESPAR.
Contribuiu significativamente para a Arqueologia Portuguesa, porém o seu trabalho limitou-se na maioria das vezes aos bastidores e provavelmente, muitos arqueólogos nunca ouviram falar dele. Há algumas semanas apresentei aqui uma entrevista a duas das responsáveis pela base de dados relativa ao Património Osteológico Humano em Portugal (POHP). Esta base de dados é um ramo do Endovélico – um precioso sistema de informação e gestão arqueológica co-desenvolvido pelo Nuno. Dado o seu falecimento, considerei importante prestar-lhe aqui a homenagem merecida pelo seu inestimável contributo para o progresso da Arqueologia em Portugal.

Conheci o Nuno há apenas 6 anos. Se há alguma descrição que lhe faça justiça, é esta: Durante todo este tempo em que o incomodei com os meus problemas informáticos, não houve vez alguma em que ele não me recebesse com um sorriso e não se prontificasse a ajudar!

Os arqueólogos são peritos em fazer “reviver” culturas e pessoas. Em boa justiça, espero que saibam também preservar na lembrança a memória do Nuno. Por seu lado, o Arqueociências envia-lhe um muito obrigado e endereça os mais sentidos pêsames à sua família e amigos.

Castelo Velho de Freixo de Numão

Embora não seja particularmente conhecido pelos estudos de arqueobotânica aí realizados, o Castelo Velho forneceu, além de abundantes carvões, abundantes grãos de cereais, concentrados numa única estrutura.

A autora do estudo de arqueobotânica, Isabel Figueiral, teve oportunidade de mencionar este achado excepcional na sua comunicação do passado dia 8 em Braga, nas conferências publicitadas aqui neste blogue.

Para quem não conhece este trabalho, deixo aqui as referências bibliográficas e alguns dados referentes à carpologia.


Castelo Velho II - Castelo Velho III - Castelo Velho IV
Hordeum vulgare 1 1876
Triticum compactum 34403
Triticum sp. 3518 4
Lathyrus sp. 4
Lens sp. 1
Pisum sativum 10 2


Castelo Velho II corresponde a níveis da Idade do Bronze, enquanto que Castelo Velho III e IV datam do Calcolítico. Os dados de Castelo Velho III correspondem à referida estrutura, como facilmente se depreende pela quantidade de material recolhido.

No seu conjunto, as espécies recolhidas não constituem uma novidade no NW peninsular, mas a verdade é que por enquanto são poucas as jazidas com recolhas sistemáticas, pelo que se deve valorizar estes resultados. Ainda assim, o Neolítico final e o Calcolítico ainda são os períodos pré-históricos para os quais detemos mais dados no Norte de Portugal, fruto do trabalho realizado por arqueólogos das Universidades do Porto e do Minho.

Eis as referências bibliográficas. Aconselho particularmente a referência mais recente.

Figueiral, I. (1999). "Castelo Velho (Freixo de Numão, Portugal). The charcoalified plant remains and their significance." Journal of Iberian Archaeology 1: 259-268.

Figueiral, I.; Jorge, S.O. (2008). "Man-made landscapes from the thir-second millennia BC: the example of Castelo Velho (Freixo de Numão, North-East Portugal)." Oxford Journal od Archaeology, 27 (2): 119-133.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Petição Online

Está a decorrer uma petição visando a substituição das bolsas de investigação por contratos de trabalho. A petição é endereçada ao Presidente da Assembleia da República e tem o seguinte enunciado:

"Os bolseiros de investigação científica encontram-se em condições muito precárias no que diz respeito às condições de trabalho. As bolsas de investigação são, neste momento, a única saída profissional ligada à investigação científica para a maioria dos cursos de ciências naturais. Assim, um recém-licenciado que queira prosseguir a carreira de investigação científica, vê-se obrigado a aceitar o estatuto do bolseiro de investigação. Esse estatuto prevê a atribuição de bolsas de investigação, de doutoramento ou pós-doutoramento que incluem um valor mensal atribuido a cada bolseiro, não sendo esse valor actualizado desde 2002. Além desse facto, o bolseiro não tem um contrato de trabalho o que faz com que não tenha direito a subsídio de desemprego, de férias ou Natal, assim como qualquer subsídio em caso de doença, parentalidade e adopção, riscos profissionais, desemprego, invalidez, velhice, morte, encargos familiares, entre outros; não desconta para o IRS pelo que não pode pedir qualquer tipo de empréstimo bancário ou outro. Neste momento a maioria dos licenciados, mestres e doutorados das ciências naturais dependem destas bolsas para viver já que as alternativas de emprego são escassas ou não incluem funções de investigação científica. Deste modo e porque as tarefas realizadas pelos investigadores são de facto trabalho que em muitos casos ultrapassa as 40 horas semanais e inclui fins de semana, as actuais e futuras bolsas deverão ser alteradas para contratos de trabalho que incluem os direitos sociais básicos acima mencionados".

A petição pode ser assinada aqui.

domingo, 23 de maio de 2010

A Estimativa da Ancestralidade a Partir do Esqueleto Humano




O CRANID é um software que permite, através de 29 medições cranianas, estimar a ancestralidade provável de um crânio não identificado. Esta classificação é efectuada após comparação automática com 3163 crânios incluídos em 74 colecções distribuídas um pouco por todo o mundo. O programa estabelece semelhanças e diferenças entre crânios e, dada a elevada correlação entre morfologia craniana e origem geográfica, fornece um resultado relativo à afinidade ancestral.

Uma nova versão deste programa foi lançada – CRANID6 – e pode ser descarregada aqui


Imagem retirada de Art of Derek Lebrun

sábado, 22 de maio de 2010

Arqueo-conferências no MNA




Relembramos novamente que um ciclo de conferências no domínio da Arqueologia e áreas afins ocorrerá a partir de Junho no Museu Nacional de Arqueologia. Esta iniciativa terá uma periodicidade mensal e estender-se-á até ao final do presente ano. A organização está a cargo do Museu Nacional de Arqueologia, do Grupo de Estudos em Evolução Humana e do Núcleo de Arqueologia e Paleoecologia da Universidade do Algarve.

A primeira conferência está agendada para as 17 horas do dia 18 de Junho e é protagonizada por Hugo Rafael Oliveira, um dos autores do arqueociências. A concluir Doutoramento pela Universidade de Cambridge, este irá apresentar alguns resultados preliminares da sua investigação actual. O título da comunicação é: Arqueogenética e a difusão do cultivo de trigo no Norte de África e na Península Ibérica.

Não percam!

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Workshop Geoarqueologia

Nos próximos dias 19 e 20 de Junho irá decorrer em Torres Vedras um Workshop em Geoarqueologia promovido pela Associação Leonel Trindade. Os oradores são Luca Dimuccio, Thierry Aubry e o Prof. Lúcio Cunha.

Para o programa detalhado e inscrições, visitem o site da ALT